De estilos clássicos a contemporâneos, arquiteta comenta as características das construções das igrejas da Arquidiocese de Londrina
As igrejas buscam ser locais propícios para o encontro com Deus. Por uma série de características, seus espaços ajudam no clima de oração e a melhor celebrar o mistério que se atualiza na missa. “Na arquitetura religiosa, sacra, nada que você coloca pode ser aleatório, tudo tem um significado, um por quê. Desde o piso, os vitrais são também catequéticos, como se dá a incidência da luz… O que dentro daquele ambiente vai te fazer estar em comunhão com Deus e se sentir acolhido e ao mesmo tempo protegido do frio, do calor, de tudo e num ambiente tranquilo e belo”, explica a arquiteta Adriana Pinho Tavares, membro da Comissão de Arquitetura e Arte Sacra de Londrina. “Porque as pessoas associam muito a beleza à espiritualidade. Às vezes a gente vê alguma coisa da própria natureza, você fala: ‘nossa, isso aqui só Deus mesmo’.”
Apesar de algumas características comuns, as construções de igrejas apresentam estilos variados. Na Arquidiocese de Londrina, aponta Adriana, pode-se encontrar desde igrejas mais antigas, com características anteriores ao Concílio Vaticano II, dos denominados estilos ‘neos’, que buscam uma releitura de estilos em vigor no passado, como a igreja do Santuário Nossa Senhora Aparecida, Decanato Leste; até construções contemporâneas, que buscam espaços mais integrados, como recomenda o Concílio Vaticano II, na década de 1960, como a Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Decanato Centro.
Adriana aponta que antes do concílios, as celebrações e a própria construção das igrejas apresentavam algumas características: as missas eram celebradas em latim, com o padre de costas para a assembleia, o sacrário central afastado das pessoas, algumas igrejas até apresentavam uma balaustrada que impedia as pessoas de chegar até o sacrário, como na Paróquia Nossa Senhora Rainha dos Apóstolos, Decanato Centro. “Aí quando chega o concílio, os espaços se tornam mais integrados, a comunidade em volta do presbitério, que seria até uma volta aos primórdios da religião que é quando eles se reuniam numa casa em torno de uma mesa”, explica.
Além de igrejas com características pré e pós Vaticano II, Adriana conta que muitas construções em Londrina foram feitas como barracões e depois receberam adaptações do espaço.
“Por uma questão de contenção de gastos. Então faziam um bairro, daí não tinha igreja. Em vez de fazer um projeto, fazia um barracão e depois dava um jeito. Só que é uma pena porque acaba tendo que adaptar um espaço e não tem muita opção, então às vezes tem problema de iluminação, circulação de ar, das janelas, tem que acabar usando a estrutura daquele espaço”, explica. Uma dessas paróquias é a Nossa Senhora da Paz, Decanato Leste, que Adriana inclusive foi responsável pelo projeto da reforma.
É uma Igreja Católica!
A arquiteta Adriana Pinho Tavares destaca que independente do estilo que uma igreja tem, ela apresenta características que a identificam. A cruz, o sino, o campanário, a torre, a rosácea, são algumas delas. “São símbolos que demonstram que é uma Igreja Católica. Pode apresentar arquitetura diferente das igrejas convencionais, mas só o fato de ter a torre e o sino já identifica, é uma Igreja Católica. Eu não tenho que escrever, [por exemplo, o nome da igreja] ela mesma fala por si.”
Espaços integrados
Adriana aponta que após o Vaticano II, a ideia é construir igrejas com espaços mais integrados que estimulem a participação dos fiéis na celebração. “Se o espaço for mais integrado, com a assembleia em torno do altar já fica um espaço mais acolhedor, a comunidade está em volta”. Em pequenas proporções, a capela da Casa de Retiros Emaús tem essa característica. Em uma dimensão maior, a Paróquia Nossa Senhora Auxiliadora, Decanato Centro.
Construções assim, segundo a arquiteta, são mais propícias do que as igrejas em formato de retângulo. “A gente fala até que tem igrejas que parecem um ônibus, retangular, lá na frente está o presbitério, o altar lá longe, o padre lá longe e aquela filinha de bancos lá atrás. Isso não favorece a participação de todos.”
Início da evangelização em Londrina
A primeira igreja da cidade de Londrina foi a catedral construída em madeira em 1934, ano da fundação da cidade. Em 1938 a igreja de madeira foi desmanchada para dar lugar à construção de alvenaria , que tinha características das igrejas mais tradicionais, releituras de construções dos séculos passados, e em 1968 esta foi destruída para dar lugar à construção atual. “Aqui em Londrina, quando os primeiros padres vieram para cá, trouxeram a ideia dessas igrejas mais tradicionais da Europa, como foi a construção dessa segunda catedral. Que depois foi derrubada para construir essa moderna, que foi uma perda de qualidade no espaço arquitetônico”, fala Adriana.
Antes da fundação da própria cidade de Londrina, a primeira igreja da arquidiocese é a Paróquia Santa Teresinha, de Sertanópolis, criada em 1929 e que neste ano completa 90 anos (Sobre a Paróquia Santa Teresinha leia a matéria da página 11).
Releituras de estilos antigos
Adriana aponta que algumas igrejas da arquidiocese construídas antes do concílio são cópias de estilos antigos, como a igreja do Santuário Nossa Senhora Aparecida, na Vila Nova, a Paróquia Rainha dos Apóstolos, Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de Alvorada do Sul, São João Batista, de Bela Vista do Paraíso, Nossa Senhora da Paz, de Ibiporã, para citar alguns exemplos.
“E esses que eu falei que são os estilos neo, em que eles começam a fazer cópias do passado. Porque na época em que foram construídas, a gente já está no século XX, a gente não tem mais aquele estilo ainda de construção. Mas quem construiu acha que igreja tem que ser com aquelas características. Até hoje algumas pessoas acham que tem que construir daquela forma. E não, hoje você tem que construir com o que você tem hoje, com a arquitetura de hoje e adaptar esses espaços com a arquitetura atual”, explica Adriana. Por isso, ela destaca que as igrejas construídas hoje já não têm mais essas características.
Neo-românico
A Paróquia São João Batista, de Bela Vista do Paraíso, e a Nossa Senhora da Paz, de Ibiporã são exemplos do estilo neo-românico, explica a arquiteta. “Elas são cópias do passado, ou seja, foram feitas baseadas na arquitetura do estilo românico, composto pelas basílicas, que possuíam um átrio com pórticos, que na maioria das vezes estava na frente e que servia como passagem entre o mundo profano e o recinto sagrado. Entrando na basílica, distinguiam-se as naves, que poderiam ser normalmente de três a cinco. A nave central era sempre mais alta e tinha geralmente o dobro da largura das naves laterais. A divisão entre as naves acontecia normalmente através de colunas. Ao final das naves encontrava-se a abside, um espaço onde se encontrava a cátedra do bispo, o altar e as cadeiras dos presbíteros”, explica Adriana.
Juliana Mastelini Moyses
PASCOM Arquidiocesana
Reportagem publicada na edição de junho do Jornal da Comunidade (JC)