Os bispos reunidos na 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) escolheram vivenciar um momento a mais de espiritualidade durante o encontro anual. Antes de cada sessão reservada, realizada nas tardes de cada dia do encontro, os prelados chegam meia hora antes ao auditório Noé Sotillo para a meditação do Terço, devocional mariano de grande popularidade no Brasil.

“Nós quisemos rezar com o povo brasileiro, do jeito que a maioria do povo brasileiro reza, que é com o terço”, ressaltou o bispo auxiliar da arquidiocese do Rio de Janeiro (RJ) e secretário-geral da CNBB, dom Joel Portella Amado.

Ele conta que o momento não estava planejado, e que foi um pedido dos bispos para anteceder as sessões reservadas. “Se todos os assuntos são importantes e delicados para o bem de toda a Igreja, mais ainda aqueles assuntos que são especificamente reservados dos bispos, e só os bispos participam dessas sessões chamadas reservadas”, explicou.

“Começamos rezando, embora na Casa da Mãe Maria, o que, em si já é importante, com a Missa, a Liturgia das Horas, mas nós quisemos rezar com o povo brasileiro do jeito que a maioria do povo brasileiro reza que é com o terço. Então, nesse sentido, está sendo muito significativo que toda tarde, às 15h30, rezemos o terço até sexta-feira”, afirmou.

CNBB

Oração diária do terço antes das reuniões reservadas no Santuário Nacional. | Foto: Luiz Lopes – Ascom 59ª AG CNBB

“Muitas guerras, muitas pestes e pouca democracia”, este foi o eixo da introdução à Análise de Conjuntura Social apresentado pelo bispo de Carolina (MA), dom Francisco de Lima Soares, coordenador do grupo de Análise de Conjuntura da CNBB, como provocação ao episcopado brasileiro na primeira sessão da 59ª Assembleia Geral da CNBB, na manhã desta segunda-feira, 25 de abril.

A análise de conjuntura apresentada aos bispos, cujo título foi “Os clamores do meu povo. A realidade brasileira de 2022”, se inspirou em dois documentos históricos da Igreja no Brasil: “Eu ouvi os clamores do meu povo a realidade do Nordeste em 1973” e “Y-Juca-Pirama, o índio: aquele que deve morrer, documento de urgência de bispos e missionários, do Centro-Oeste”.

A análise apontou o espectro da fome e da insegurança alimentar que “voltou a se agravar e a castigar a população brasileira”. O grupo de análise de conjuntura  da CNBB apresentou dados da pesquisa realizada pelo Datafolha, que apontou que, em março de 2022, a quantidade de comida em casa era insuficiente para 24% dos brasileiros, ainda como reflexo da volta do país ao mapa da fome da ONU a partir de 2018, após ter saído em 2014.

Segundo a análise, a volta do espectro da fome é fruto de uma herança estrutural do Brasil, o segundo maior exportador de alimentos do mundo, só perdendo para os Estados Unidos, com produção capaz de alimentar 1,6 milhões de pessoas. “O problema não está na capacidade de produzir, mas também nos mecanismos de distribuição”, disse dom Francisco.

A conjuntura econômica e política de 2022

O grupo de análise de conjuntura apontou que a economia brasileira continuará apresentando crescimento pífio no ano de 2022, com as melhores expectativas prevendo aumento de apenas 0,5%, mantendo-se, assim, no patamar observado nos anos de 2012 e 2013. A taxa de desocupação, no primeiro trimestre de 2022, segundo o IBGE, ficou estabilizada em torno de 11%, o que representa mais de 12 milhões de pessoas.

A aparente melhora das taxas de ocupação e de subutilização da força de trabalho, 27,3 milhões de pessoas, observada a partir do auge da crise provocada pela Covid-19, em 2020, não foi acompanhada de melhoria do rendimento médio real dos ocupados, segundo o gráfico abaixo apresentado pelo grupo.

O grupo reiterou reflexões apresentadas em conjunturas anteriores que caracterizam a conjuntura política brasileira, as eleições 2022 e o atual momento: “autoritário, transformação dos adversários políticos em inimigos, destruição das conquistas e dos direitos consolidados, desmonte das políticas públicas e a desinstitucionalização e desgaste da democracia, forte presença das redes sociais e de um ‘ódio’ político que transformou o debate em embate”.

Uma característica que foi apresentada na análise é a de que debate religioso ganha, cada vez mais, destaque e protagonismo nas eleições deste ano, com deputados e ministros ligados às Igrejas neopentecostais ocupando funções e áreas estratégica do governo. A análise apontou que é sintomático o fato de que escândalos políticos durante o atual governo federal têm sido protagonizados por líderes religiosos. “A utilização da religião, notadamente do cristianismo, tem caracterizado a nova extrema-direita global”, apontou a análise.

A análise aprofundou ainda o atual perfil do Congresso Nacional após a fase da janela partidária, período no qual 122 deputados mudaram de sigla, e as disputas presentes no poder Judiciário brasileiro.

Os grandes temas na agenda do Supremo Tribunal Federal (STF), em 2022, são a “pauta verde”, temas indígenas e socioambientais. Onze temas foram sistematizados como pontos que precisam de defesa do prelados brasileiros frente a tal conjuntura. Após a análise, os bispos se manifestaram sobre pontos que sentiram falta nas reflexões.

Grupo de Análise de Conjuntura da CNBB Pe. Thierry Linard, SJ

O grupo é composto por dois bispos, sendo dom Francisco Lima Soares, da diocese de Carolina (MA), e o bispo de São Carlos (SP), dom Paulo César, dois padres, Paulo Renato e Marcus Barbosa, e nove professores das Pontifícias Universidades Católicas (PUCs) do Brasil. O grupo leva o nome do padre jesuíta Thierry Linard, que atuou como assessor especial da CNBB e contribuiu na construção das Análises de Conjuntura, falecido em 30 de janeiro deste ano. As análises do grupo vêm focando sempre em duas dimensões: social e eclesial e estarão vinculadas ao Instituto Nacional de Pastoral (Inapaz), órgão ligado à CNBB. Os textos de análise produzidos pelo grupo estão sendo disponibilizados no site da CNBB.

CNBB

Teve início nessa segunda-feira, 25 de abril, a primeira etapa da 59ª Assembleia Geral da CNBB, que se realiza até sexta-feira, dia 29 de abril, na modalidade on-line. O último assunto em pauta no período da manhã tratou sobre a comunicação no processo eleitoral de 2022. O assunto foi abordado, em cerca de vinte minutos de exposição, pelo professor emérito da Universidade de Brasília e membro do Observatório de Comunicação religiosa da Igreja no Brasil, Venício Lima.

Professor Venício Lima, membro do Observatório de Comunicação Religiosa da Igreja no Brasil. Foto: print.

O professor Venício partiu do pressuposto do compromisso comum com a democracia, recordando que ela é um regime político caracterizado pela soberania popular com isonomia (direitos iguais de todas as pessoas perante a lei) e isegoria (direito à palavra e liberdade de expressão).

Em seguida, ele aprofundou sobre a questão de como o Brasil vive a democracia, ressaltando que o país ainda é inexperiente nesse âmbito, devido a uma série de questões históricas, dentre as quais estão os meios de comunicação social, com uma grande responsabilidade.

“No Brasil, a mídia constitui um oligopólio do ponto de vista econômico e opera como um monopólio, do ponto de vista político. Esses fatos perpetuam o grande paradoxo da nossa democracia: o direito ao voto foi universalizado, mas se impede estruturalmente a formação de uma consciência democrática. Tudo isso, claro, é a própria negação da isegoria”, explicou o professor Venício.

Ao avançar na reflexão, abordando diretamente o processo eleitoral de 2022, o professor Venício falou sobre alguns desafios do momento atual, como a questão da disseminação de notícias falsas (fake news) e os questionamentos quanto à credibilidade da Justiça Eleitoral (Tribunal Superior Eleitoral). “2022 não é um ano como qualquer outro. Celebramos o bicentenário de nossa independência política. E as eleições gerais que se realizarão em outubro não são eleições como quaisquer outras. A democracia e suas instituições estão sob ataque reiterado e permanente”, frisou o professor.

Para concluir, Venício falou da grande responsabilidade que a Igreja Católica possui quanto à democracia: “Nesses tempos sombrios, quando a democracia se encontra sitiada, a responsabilidade da Igreja e de suas autoridades é imensa. A CNBB, nas suas sete décadas de existência, tem se constituído em referência ética para os movimentos sociais, as lideranças populares e os formadores de opinião”.

Intervenções dos bispos

Após a exposição do professor Venício, muitos bispos se manifestaram. Além de expor suas ideias e preocupações quanto ao assunto, todos expressaram gratidão ao professor pela reflexão apresentada. “Esse entendimento e horizonte de compreensão é uma coisa nova para nós. Precisamos compreender bem o que foi colocado, a fim de darmos uma ajuda mais significativa nesse momento social do Brasil”, afirmou o arcebispo de Belo Horizonte (MG) e presidente da CNBB, dom Walmor de Oliveira Azevedo.

O bispo auxiliar de Belo Horizonte (MG), dom Vicente de Paula Ferreira, manifestou a preocupação quanto à violência que alguns bispos têm sofrido com difamações nas redes sociais, questionando: “Como a CNBB pode pensar nessa questão, a partir da fala do professor. Sentimo-nos exilados na própria casa, isso tem influenciado nosso ministério e nossa vida. Como vamos tratar isso?”.

Nessa mesma linha de reflexão, o arcebispo da diocese de Cachoeiro de Itapemirim (ES), dom Luiz Fernando Lisboa, afirmou que hoje se assiste à campanhas abertas contra a Igreja, à CNBB e ao Papa Francisco. “Até um simples comunicado tem reações esdrúxulas e violentas contra a Igreja, os padres e os bispos. Isso confunde muito as pessoas. Temos que ajudar nosso povo a aprender e refletir”, disse dom Lisboa. O bispo destacou ainda que é necessário também alguma formação e orientação para os bispos quanto a realidade da comunicação atual.

O bispo da diocese de Campos (RJ), dom Roberto Francisco Ferrería Paz, também expressou sua preocupação quanto essa questão da violência e destacou que é importante a formação para os fiéis: “Nossas paróquias têm a Pastoral da Comunicação, que poderia fazer programas contra as fake news. Podemos orientar até as pessoas que vêm à missa, por que o nosso povo é extenso e eles mesmos podem ajudar a multiplicar essa formação”.

O bispo auxiliar da arquidiocese de Belo Horizonte (MG) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, dom Joaquim Mol Guimarães, que fez a mediação do tema, concluiu a reflexão propondo ao episcopado aprofundar, posteriormente, todos os temas levantados pelos bispos com o professor Venício, a fim de oferecer-lhes uma reflexão mais completa.

“Precisamos avançar na compreensão da comunicação em todos os momentos, particularmente nesse que estamos. Não podemos permitir moldar nossa mente por meios comunicação que tem por princípio apenas o lucro”, disse dom Joaquim.

Com colaboração de Karina de Carvalho – CNBB Sul 2

CNBB

O arcebispo dom Geremias Steinmetz participa nesta semana da 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com a primeira etapa do encontro, no formato virtual. Assim como no ano passado, serão cinco dias de trabalho por meio da plataforma Zoom. E entre os dias 29 de agosto e 2 de setembro, será realizada a segunda etapa, de forma presencial, em Aparecida (SP).


O tema central da assembleia é “Igreja Sinodal – Comunhão, Participação e Missão”, em sintonia com o processo do Sínodo 2021-2023, convocado pelo Papa Francisco. O encontro terá seis temas prioritários, entre eles o relatório anual do Presidente, o informe econômico e assuntos das Comissões Episcopais para a Liturgia, para a Tradução dos Textos Litúrgicos (CETEL) e para a Doutrina da Fé (CEPDF).
No início desta tarde, dom Geremias atendeu à imprensa brasileira em entrevista coletiva com a participação de outros bispos. O arcebispo de Londrina e presidente do Regional Sul 2 da CNBB falou sobre a Cartilha de Orientação Política produzida pelo regional e distribuído para todo Brasil neste ano de eleição. A cartilha é baseada na Encíclica do Papa Francisco Fratelli Tutti.

PASCOM Arquidiocesana

A participação do arcebispo de Londrina (PR) e presidente do regional Sul 2 da CNBB, dom Geremias Steinmetz, marcou a primeira Coletiva de Imprensa da 59ª Assembleia Geral da CNBB, na tarde desta segunda-feira, (25). O momento contou também com a participação do bispo de Tocantinópolis (TO) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da CNBB, dom Giovani Pereira de Melo, e abordou um dos temas refletidos na plenária da assembleia: política e eleições.

Durante a coletiva, dom Geremias apresentou a Cartilha de Orientação Política 2022 produzida pelo regional Sul 2. O material reflete o tema “a política melhor” e, conforme explicou o arcebispo, é fruto de um longo caminho de reflexão política no Paraná.

“Desde 2008 o Regional Sul 2 produz uma cartilha para ajudar na conscientização do povo sobre a questão política. Muitos temas fundamentais já foram trabalhados pelos materiais, como a venda de votos e as polarizações por exemplo”, explicou.

Dom Geremias falou também sobre o papel da Igreja nas eleições e abordou a temática das fake news. “As fake news não são apenas mentiras. São, na verdade, verdadeiras ameaças à democracia. É uma mentira trabalhada para favorecer candidatos que não têm boas propostas ou que têm atuações duvidosas na sociedade. Este é um problema que precisa ser combatido. Temos que trabalhar sempre com a verdade, porque ela nos libertará”, destacou dom Geremias.

Ainda durante a Coletiva de Imprensa, o arcebispo ressaltou que a fé e a política não estão em lados opostos, mas que, para ele, é preciso olhar esta relação a partir da educação e perceber que é possível viver a fé na política.  Por fim, concluiu com o alerta: “Temos o direito e o dever de acompanhar e cobrar aqueles que foram eleitos. Todos são corresponsáveis pelo Brasil”.

A política melhor

Nas eleições deste ano – que acontecem dias 2 e 30 de outubro -, os brasileiros irão às urnas para escolher presidente da República, governadores dos estados, senadores e deputados federais, estaduais e distritais Para orientar um processo a serviço do bem comum, a Cartilha de Orientação Política divide-se em três blocos: 1. A Igreja e a Política; 2. As eleições Gerais de 2022; e 3. A política em favor da vida integral.

Inspirada pela Carta Encíclica Fratelli Tutti, especialmente no capítulo V, o material trata da política melhor, onde o Papa aborda a política na perspectiva da caridade. Segundo dom Geremias, uma inspiração importante é quando o Papa apresenta ‘o amor político’, quando reconhece todo o ser humano como irmão e irmã, concretizado em políticas públicas que favorecem os mais pobres e os marginalizados.

Com colaboração de Victória Holzbach, assessoria de Comunicação do Sul 3

CNBB

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) abre, na próxima segunda-feira, 25, a sua 59ª Assembleia Geral, com a primeira etapa do encontro, no formato virtual. Assim como no ano passado, serão cinco dias de trabalho por meio da plataforma Zoom. E entre os dias 29 de agosto e 2 de setembro, será realizada a segunda etapa, de forma presencial, em Aparecida (SP).

Foi definido como tema central da assembleia “Igreja Sinodal – Comunhão, Participação e Missão”, em sintonia com o processo do Sínodo 2021-2023, convocado pelo Papa Francisco.

O encontro terá seis temas prioritários, entre eles o relatório anual do Presidente, o informe econômico e assuntos das Comissões Episcopais para a Liturgia, para a Tradução dos Textos Litúrgicos (CETEL) e para a Doutrina da Fé (CEPDF).

Outros 30 temas estão na pauta desta etapa virtual da 59ª Assembleia Geral da CNBB. São assuntos de estudo, comunicações, análises de conjuntura e os temas que não exigem votações presenciais do episcopado brasileiro.

Será também nesta primeira etapa que os bispos se ocuparão de preparar as mensagens ao Papa, ao prefeito da Congregação para os Bispos e ao povo brasileiro.

Na carta convocatória da 59ª Assembleia Geral, o presidente da CNBB, dom Walmor Oliveira de Azevedo, e o secretário-geral, dom Joel Portella Amado, expressaram seus votos para o encontro:

“Permita o Bom Deus que nossa Assembleia seja rica e fecunda experiência de comunhão, fraternidade e compromisso com o anúncio da Palavra de Deus, geradora de comunidades eclesiais missionárias, em todos os recantos do nosso amado Brasil. Que a Mãe Aparecida nos acompanhe e proteja com sua intercessão”.

Escolha da modalidade virtual

Em entrevista ao Portal da Canção Nova, dom Joel ressaltou o planejamento da assembleia, realizado com antecedência e levado em consideração vários fatores. Um deles justifica a realização virtual do encontro, mesmo com a realidade mais controlada da pandemia. “Quando começamos a planejar a 59ª, o contexto ainda inspirava insegurança”, explicou.

Outro fator é a presença dos bispos nas suas dioceses. As Assembleias Gerais da CNBB tradiocionalmente são realizadas ao longo de dez dias e, neste ano, foram retomadas as agendas das visitas Ad Limina, quando os bispos visitam o Papa e os organismos da Cúria Romana.

“Como os bispos deverão viajar para as visitas Ad Limina, é importante que fiquem mais tempo em suas dioceses. Com isso, aproveitamos a experiência da 58ª AGO, que foi totalmente virtual”, disse dom Joel.

Etapa presencial

A segunda etapa da Assembleia, no Santuário Nacional de Aparecida, marcará o reencontro do episcopado depois de três anos do encontro anterior, em 2019. Nela, serão priorizados os assuntos que o Estatuto da CNBB e o Direito Canônico exigem presencialidade para votação, como por exemplo a aprovação da terceira edição do Missal e do novo Estatuto da CNBB.

Acompanhe e esteja em comunhão

Diariamente, a CNBB vai transmitir as missas da Assembleia, pelas redes sociais, às 7h.

No portal da CNBB e nas redes sociais, a cobertura dos principais temas abordados nas sessões. Serão divulgados também boletins diários: uma newsletter com as notícias publicadas e o boletim Igreja no Brasil especial.

Esteja em comunhão com sua oração e partilhe seus votos de uma boa assembleia nas redes sociais com a hashtag #59AGCNBB.

CNBB