Rua Dom Bosco, nº 145, Jd Dom Bosco - Londrina PR
Arquidiocese de Londrina
Arquidiocese de Londrina

São Roque Gonzales, um santo que evangelizou no sul do Brasil

Arquidiocese de Londrina

18 novembro, 2024
#Compartilhe

Para este artigo solicitaram-me algumas palavras sobre um dos santos de minha devoção: São Roque Gonzales. No Calendário Santoral, o dia 19 de novembro registra a comemoração de três mártires por causa da fé: São Roque Gonzales, Santo Afonso Rodriguez e São João del Castillo. Sempre se fala deles conjuntamente como os “Três Mártires das Missões”, porque foram martirizados em datas e locais próximos.

As informações oficiais sobre a vida destes santos, encontram-se no Missal Romano e também no site da Diocese de Santo Ângelo (RS). Fui buscá-las ali preocupado com a exatidão das informações. Roque Gonzales de Santa Cruz nasceu em Assunción – Paraguai em 1576. Entrou na Companhia de Jesus, já como sacerdote, em 1609. Durante cerca de 20 anos evangelizou os povos das florestas, tanto do Paraguai quanto do Brasil, especialmente no Rio Grande do Sul. Nas assim chamadas Reduções, instruía na fé e nos bons costumes cristãos. Foi morto traiçoeiramente por causa da fé, junto com seu colega Afonso Rodriguez, que era espanhol, em 15 de novembro de 1628. Dois dias mais tarde, em outra Redução, sofreu cruel martírio João del Castillo, que tinha sido ardente defensor dos índios contra seus opressores. Esses três sacerdotes jesuítas foram martirizados na região do Rio da Prata, foram beatificados por Pio XI, em 1937, e canonizados pelo Papa São João Paulo II, no Paraguai, no dia 16 de maio de 1988, em Assunción.

Roque Gonzales e seu companheiro foram martirizados na Redução do Caaró e João del Castillo numa Redução próxima. Já no século XX o local do martírio foi localizado e os padres, com a ajuda do povo, construíram um santuário. O Santuário do Caaró está localizado no município de Caibaté, no exato local da antiga redução de Caaró, no primeiro ciclo das reduções jesuítico-guaranis. O Santuário demarca o local do martírio dos padres jesuítas. Todas as semanas, diversas caravanas de romeiros, peregrinos e turistas de diversos lugares do Rio Grande do Sul e até mesmo do exterior visitam o Caaró. Um grande atrativo do local, além de toda a dimensão histórica, é a fonte d´água, que segundo a tradição, teria sido abençoada pelo próprio São Roque Gonzales antes de seu martírio. Curiosamente, mesmo com as diversas secas e estiagens que assolaram a região, a fonte nunca secou ou diminuiu. Sua água permanece limpa e cristalina. 

Juntamente com os três missionários jesuítas, indígenas guaranis defensores dos sacerdotes também tiveram suas vidas sacrificadas. Conta-se que após serem assassinados, os corpos dos padres foram atirados às chamas. O quadro de Nossa Senhora da Conceição, a quem o padre Roque chama de Conquistadora, foi destruído pelos rebeldes. No dia seguinte, os revoltosos retornaram ao local do martírio. De onde haviam queimado os corpos dos sacerdotes se fez ouvir uma voz vinda do coração de Roque, a qual dizia: “Matastes a quem vos amava e queria bem. Matastes, porém, somente meu corpo, pois minha alma está no céu. E não tardará o castigo porque virão meus filhos para punir-vos por terdes maltratado a imagem da Mãe de Deus. Mas eu voltarei para vos ajudar porque muitos trabalhos vos hão de sobrevir por causa de minha morte”. O fogo consumiu os corpos, mas o coração do Pe. Roque ficou intacto. Os restos mortais dos padres foram recolhidos e levados ao Paraguai, sede da então Província dos Jesuítas. Lá o coração permaneceu guardado, intacto, incorrupto.

Pisar o solo onde os mártires derramaram seu sangue é uma experiência muito forte para o povo fiel. Mas, dois outros símbolos sempre atraem multidões: a água da fonte do Caaró e o coração do Pe. Roque Gonzales. A água da fonte está sempre disponível, límpida e milagrosa no decorrer dos tempos. Peregrinos vindos de outros estados e até outros países buscam a milagrosa água do Caaró. Água da fonte que brota da terra, terra manchada pelo sangue dos padres jesuítas. O coração do missionário jesuíta, protomártir do Rio Grande do Sul, de tempos em tempos vem em peregrinação ao local, desde a Igreja de Santo Inácio, em Assunción no Paraguai, onde permanece desde 1628, ano do martírio.

A minha experiência com relação aos mártires das missões consiste em quatro observações: 

  1. A minha família acompanha o desenvolvimento da devoção aos Santos Mártires das Missões pelo menos desde o início do século XX. Meus avós migraram para o noroeste do Rio Grande do Sul ainda no final do século XIX. Certamente, como católicos, participaram de todo o trabalho ao redor da construção do Santuário do Caaró.
  2. Meu pai, quando jovem, participou de várias romarias ao Santuário do Caaró, acompanhando a Comunidade Paroquial de Cerro Largo (RS). Contava que eram três dias de viagem de ida e outros três de volta. Viagem vivida com oração, cantos e muita devoção.
  3. Quando meus pais migraram para o Sudoeste do Paraná, com muitas outras famílias procedentes daquela região, trouxeram com eles a devoção a Nossa Senhora Conquistadora. Ela era a padroeira da Diocese de Uruguaiana e da Província dos Padres Palotinos do Sul. Ao fundarem a sua comunidade no Paraná, assumiram Nossa Senhora Conquistadora como padroeira. Esta é a minha comunidade de origem.
  4. Por duas vezes acompanhei meus pais em visita ao Santuário do Caaró. O ritual foi a visita ao santuário e uma oração conjunta; um banho nas águas da fonte; e ouvir as muitas histórias que contavam relacionadas aos Mártires das Missões e às romarias das quais participaram. Uma vez, no encontro de família, presidi a Santa Missa no Santuário do Caaró. Mas nunca consegui participar de alguma romaria com o “coração incorrupto” de São Roque Gonzales.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

Artigo publicado na Revista Comunidade – edição novembro/dezembro 2025

Make a Comment

Categorias

top