Nos dias 8, 9 e 10 de maio de 2025, concedi entrevistas a vários meios de comunicação social do Paraná e de Londrina, especialmente. O assunto era sempre ao redor das primeiras impressões sobre o Papa Leão XIV, recém eleito, e quais as esperanças que eu nutria sobre um novo ocupante da Cátedra de São Pedro. A experiência me dizia desde o falecimento do Papa Francisco que estas seriam perguntas que me seriam apresentadas de muitas formas e por diversas pessoas, especialmente pelos jornalistas.

Para me precaver acompanhei todas as discussões que foram acontecendo no pré-conclave: discursos, homilias, análises que os cardeais do mundo inteiro iam fazendo. Acompanhava tudo em espírito de oração, especialmente pelo futuro Papa que estava sendo gestado pelo Espírito naqueles dias. Procurava ler bastante sobre as histórias pessoais dos cardeais. Vindos das mais diferentes regiões do mundo, todos apresentam histórias lindas de sucessos, superações, trabalhos, contribuições para a Igreja e o processo de evangelização da humanidade.

Quando o nome do novo Papa foi anunciado, devo confessar a minha surpresa. Não estava na minha lista de candidatos! Mas, tinha a certeza de que já tinha rezado por ele durante todos aqueles dias de preparação do conclave. Logo, já o tinha aceito no meu coração. Internamente renovei a minha fidelidade, acatando desde aquele momento tudo o que será proposto por ele à Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. As suas primeiras palavras, ao ser anunciado, me impressionaram sobremaneira. Divido-as em alguns pontos para efeitos didáticos:

• A escolha do nome Leão XIV: A primeira lembrança que me apareceu foi, justamente a de Leão XIII, o autor da grande Encíclica Rerum Novarum (1891). Foi ele que inaugurou uma série de encíclicas que trataram da Doutrina Social da Igreja. Quem sabe o Papa Leão queira, de maneira especial, continuar a importante reflexão sobre a “Igreja e a sociedade”. A contribuição do Evangelho para a solução de grandes questões da sociedade humana. Aliás, alguns dias mais tarde o Papa Leão apresentou uma pequena luz: A Rerum Novarum preocupou-se de orientar a Igreja e o mundo sobre grandes questões geradas pela Revolução Industrial. Hoje estamos vendo crescer importantes questões ao redor da Inteligência Artificial: exploração de trabalhadores, escravidão, exploração sexual, etc. Uma palavra forte da Igreja sobre este momento seria de interesse da humanidade.

• O dom da Paz: O Papa Francisco, em muitos momentos, se pronunciou pela paz mundial. Quando, no dia da Páscoa, se apresentou diante da multidão na Praça de São Pedro, ainda falou que “dedicaria o sofrimento dos últimos dias pela Paz Mundial”. Já na segunda-feira de Páscoa, após seu falecimento, na abertura do seu testamento espiritual lê-se a mesma expressão: pela paz mundial. Já o Papa Leão, ao ser anunciado ao mundo como o novo Papa, com voz forte e corajosa, diz: A paz esteja com todos vós! Com isto quis dizer que a paz é o primeiro fruto da ressurreição de Jesus. Penso que com tudo isto, fica clara a opção do Papa Leão XIV de continuar lutando pela Paz Mundial. Completa ainda com as belas palavras: “Esta é a paz de Cristo Ressuscitado, uma paz desarmada e uma paz que desarma, que é humilde e perseverante. Que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente”.

• Palavras de carinho e gratidão ao Papa Francisco: “Conservamos ainda nos nossos ouvidos aquela voz fraca, mas sempre corajosa (…) o Papa que, naquela manhã de Páscoa, abençoava Roma e dava a sua bênção ao mundo inteiro. Permiti-me que dê prosseguimento àquela mesma bênção: Deus nos ama, Deus vos ama a todos, e o mal não prevalecerá! Estamos todos nas mãos de Deus”. Convoca a todos para seguirem firmes como Discípulos de Jesus Cristo: “Somos discípulos de Cristo. Cristo vai à nossa frente. O mundo precisa da sua luz. A humanidade precisa d’Ele como ponte para poder ser alcançada por Deus e pelo seu amor”. Percebo assim continuidade e descontinuidade com o Papa Francisco. Estão unidos, porém, no essencial da nossa fé, especialmente o Mistério Pascal do Senhor Jesus.

• “Sou agostiniano, um filho de Santo Agostinho”: Leão XIV reconhece e agradece a origem e o desenvolvimento da sua vocação à grande família agostiniana. Santo Agostinho, normalmente, é lembrado juntamente com sua mãe Santa Mônica que rezou muito pela sua conversão. A tradição filosófica e teológica da Igreja deve muito a Santo Agostinho. A expressão lembrada pelo Santo Padre: “Convosco sou cristão e para vós sou bispo”, é de Santo Agostinho. Além disso, lembra muito o Concílio Vaticano II, que proclamou a igual dignidade dos cristãos através do Batismo. “Neste sentido, podemos caminhar todos juntos em direção à pátria que Deus nos preparou”, completa o Santo Padre. Somos a Igreja Povo de Deus a caminho sempre.

• Sinodalidade é o caminho “fora do qual tudo murcha”: “Deus criou o mundo para que pudéssemos estar juntos. Sinodalidade é o nome eclesial desta consciência. É o caminho que exige que cada um reconheça a sua dívida e o seu tesouro, sentindo-se parte de um todo”. Este caminho certamente não sofrerá descontinuidade com Leão XIV. Sinodalidade é o caminho da Igreja.

• No único Cristo somos um: Este é o lema pontifício de Leão XIV. Junto ao forte tema da paz, surge também uma imagem precisa da Igreja que ele propõe: a Igreja da unidade. Uma citação da Exposição sobre o Salmo 127, de Santo Agostinho, para explicar que “embora nós, cristãos, sejamos muitos, no único Cristo somos um”. É, certamente, uma grande chamada para a melhor compreensão do Ecumenismo tão bem quisto pelo Concílio Vaticano II e otimamente expresso pelo recente Sínodo dos Bispos sobre a Comunhão, participação e missão.

Mais uma vez tivemos a oportunidade de manifestar o nosso reconhecimento pela guia do Espírito Santo na Igreja. Mais uma vez renovou em nós a esperança. Vivamos e trabalhemos sempre na sua presença! Bem vindo, Papa Leão XIV!

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

Artigo publicado na edição de julho e agosto de 2025 da Revista Comunidade