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Arquidiocese de Londrina
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Conheço minhas ovelhas e elas me conhecem: Uma reflexão sobre como conhecer Jesus!

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15 setembro, 2024
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Nas visitas pastorais, normalmente, inicio os encontros com as lideranças e o povo de Deus citando a inspiração para as visitas, que se encontra no Evangelho de João, especialmente no capítulo 10: “Eu sou a porta das ovelhas” (v 7); “Eu sou o bom pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas” (v.11). “Conheço minhas ovelhas e elas me conhecem” (v.14). “Eu vim para que tenham vida e tenham em abundância” (v.10). “O pastor caminha à sua frente e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz” (v.4).

Cada um desses versículos abre a reflexão para uma área interessante da pastoral nas comunidades de fé. Quero considerar um pouco mais profundamente o versículo 14: “Conheço minhas ovelhas e minhas ovelhas me conhecem”. Pois mostra que nós somos conhecidos pelo Bom Pastor Jesus, mas também nós precisamos nos esforçar para conhecê-lo. Para ser possível conhecer a sua voz, é necessário conhecer o seu jeito de falar e a sua linguagem. Conhecê-lo por suas palavras, por seus gestos e por suas atitudes.

Como conhecer Jesus nos nossos tempos? Como fazer dele uma experiência pessoal e fundamental? A fé cristã, em nós, só resiste aos embates do tempo e da história, se estiver ancorada numa experiência pessoal de Jesus Cristo sólida. Além disso, “não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas através do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva” (Documento de Aparecida, 243). Também é necessário conhecer os pilares fundamentais para perseverar na fé. Vamos refletir sobre isso em alguns pontos:

Família- É ótimo que a fé comece na família, no convívio familiar, na oração em família, no ambiente da família. A fé que nasce e se desenvolve na família é mais forte e tem mais aderência à vida. A criança que vê seus pais testemunhando a fé cresce com o coração mais dócil para ela. Desde o início da história da Igreja o argumento para o batismo de crianças era, justamente, o desejo de os pais transmitirem a fé às crianças, desde a mais tenra idade.

Comunidade – Jesus, no início do seu ministério, escolhe os 12 para viver em comunhão com ele (Mc 3,14). Esta comunhão se realiza no “estar com ele” (Mc 6, 31-32); nos encontros em que Jesus “explica o mistério do Reino” (Mc 4,11.33-34). Jesus age da mesma forma com o grupo dos 72 discípulos (Lc 10, 17-20). Também hoje o encontro dos discípulos com Jesus na intimidade é indispensável para alimentar a vida comunitária e a atividade missionária. O número 155 do Documento de Aparecida mostra que “os discípulos de Jesus são chamados a viver em comunhão com o Pai e com seu Filho morto e ressuscitado, na Comunhão do Espírito Santo”. A vocação ao discipulado missionário é convocação à comunhão em sua Igreja. Não há discipulado sem comunhão. Diante da tentação, muito presente na cultura atual, de ser cristãos sem Igreja e das novas buscas espirituais individualistas, afirmamos que a fé em Jesus Cristo nos chegou através da comunidade eclesial e ela nos dá uma família, a família universal de Deus na Igreja Católica. A fé nos liberta do isolamento do eu, porque nos conduz à comunhão.

Iniciação à Vida Cristã – Há muitos anos já acontecia a reflexão da Igreja do Brasil sobre o processo de Iniciação à Vida Cristã. A constatação de que muitos católicos batizados não são evangelizados fez com que se procurasse e se investisse em um processo que fosse capaz de fornecer os elementos necessários para que a pessoa possa perseverar na fé. Este processo é o da Iniciação à Vida Cristã sob Inspiração Catecumenal. O que é Inspiração Catecumenal? É auxiliar nossos interlocutores não tanto a ouvirem e falarem sobre Deus, mas sim, a ouvirem e falarem com Deus. Por esta razão, ela inclui, mas não pode ser reduzida à realização de tempos e etapas, a esquemas rígidos e uniformes, a itinerários e rubricas. É ação querigmática e mistagógica, isto é, uma progressiva introdução no plano amoroso do Pai, vivido na experiência comunitária, para professar, celebrar, viver e testemunhar a fé em Jesus Cristo, no Espírito Santo.

Palavra de Deus, Liturgia e Comunidade – Esses são pilares necessários para conhecer Jesus e para gerar perseverança na fé cristã. Iniciação e Palavra de Deus estão sempre intimamente ligadas. Uma não pode ocorrer sem a outra (DGAE 2015-2019, n.47). Os processos de Iniciação e a formação dos agentes evangelizadores precisam levar em conta as etapas que lhes são próprias: o querigma, o catecumenato, a purificação-iluminação e a mistagogia. Assim, esse itinerário, fundamentado na Sagrada Escritura e na Liturgia, é capaz de educar para a escuta da Palavra, para a oração pessoal (CNBB, Doc. 107, n.66) e para o compromisso comunitário e social.

Religiosidade popular – A piedade popular, ou religiosidade popular, é um lugar fenomenal para um profundo encontro com Jesus Cristo. É porque, normalmente, ela destaca a vida de Jesus, de Nossa Senhora, dos santos, nos seus momentos de maior dor. Facilmente tem a adesão sincera das pessoas. A dor do outro frequentemente comove as pessoas. Lembremos de Nossa Senhora das Dores nas diversas fases dos seus sofrimentos; o próprio Cristo sendo flagelado, crucificado, morto, carregando a cruz, etc. Os santos mártires, homens e mulheres que entregaram a sua vida por causa da fé. Ou ainda os santos que vivem a sua fé no dia a dia por entre dores, sofrimentos e renúncias. A Constituição de Liturgia Sacrossanctum Concilium ensina que estas celebrações devem ser sempre iluminadas pela Palavra de Deus e pela Liturgia. Pouco a pouco vão se tornando conhecimento e adesão sincera e a partir dela passa-se a adorar todo o Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

Artigo publicado na Revista Comunidade – edição setembro/outubro 2024

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