#Compartilhe


Paulo de Tarso é, sem dúvida, depois de Jesus Cristo, uma das figuras mais fascinantes do cristianismo primitivo, um verdadeiro homem de Deus, profundamente comprometido com a missão de levar a mensagem do Evangelho a todas as nações. Passou por uma profunda conversão, era um fariseu zeloso e não media esforços para perseguir aqueles que não cumpriam a Lei Mosaica. A caminho de Damasco sua soberba caiu por terra e ele ouviu a voz do Ressuscitado! Que experiência maravilhosa Paulo deve ter vivido! Inevitavelmente, se transformou no maior propagador do evangelho. De perseguidor dos cristãos, tornou-se pastor de almas.


Apesar de Paulo não estar sozinho em sua ação missionária, pois tinha ao seu lado grandes defensores do cristianismo, como Barnabé, Priscila e Áquila, Tito, Timóteo, Silas, Lídia, Pedro, é dele a grande responsabilidade de ser o mais lúcido defensor da abertura da Igreja ao mundo pagão. Como diz o escritor Giuseppe Barbaglio, em seu livro (As Cartas de Paulo I), esse personagem incrível do cristianismo não era um intelectual, nem um pensador, ou grande escritor, no sentido clássico, mas sua atividade literária foi fundamental para a propagação do evangelho e para a formação das primeiras comunidades cristãs.

Saulo, o fariseu
Saulo, era natural de Tarso, na Cilícia, filho de comerciantes ricos, fariseu, aluno do célebre rabino Gamaliel, era cidadão romano e por ser um zeloso defensor da Torá, perseguia os cristãos, pois considerava os seguidores de Cristo traidores do Judaísmo. Para esse zeloso guardião das tradições judaica e farisaica esses cristãos tinham abandonado a Lei Mosaica, portanto, Saulo assumiu uma atitude agressiva em relação aos cristãos. Na Carta aos Gálatas Paulo escreve: “Ouvistes certamente da minha conduta de outrora no judaísmo, de como perseguia sobremaneira e devastava a Igreja de Deus e como progredia no judaísmo mais que muitos compatriotas da minha idade, distinguindo-me no zelo pelas tradições paternas” (Gl 1,13-14).


Saulo, o convertido
A caminho de Damasco e com a missão de prender cristãos, inclusive com carta de recomendação do sumo sacerdote para cometer tal ato, o arrogante perseguidor literalmente “cai do cavalo”. Vindo abaixo com seu orgulho e com seu rosto em terra, ouve a voz do Senhor que lhe dizia: “Saul, Saul, por que me persegues?” (At 9,4). Essa narrativa dramática e edificante narrada em Atos dos Apóstolos nos mostra que o Senhor resgata para o seu ministério até o seu pior inimigo. Saulo cometia atrocidades com os cristãos, mas era um homem culto, falava grego, latim e hebraico e Deus se valeu de sua inteligência e ortodoxia para que Paulo pregasse e convertesse a muitos. “Cair do cavalo” significou para o até então fariseu, cair da sua soberba e se transformar em um instrumento evangelizador nas mãos do Senhor.

Paulo, o missionário, o pastor de almas
Para entender Paulo e sua paixão pela evangelização, podemos utilizar uma metáfora que ilustra muito bem sua missão. O próprio Paulo, em 1 Coríntios, compara sua a vida após a conversão como aqueles que correm no estádio: “Não sabeis que aqueles que correm no estádio, correm todos, mas um só ganha o prêmio? Os atletas correm para ganhar um coroa perecível, os cristãos para ganharem uma coroa imperecível” (1 Cor 9,24-25). Paulo se coloca como exemplo de um verdadeiro atleta, aquele que precisa ser extremamente disciplinado para ser merecedor do prêmio. Paulo se via como um instrumento de uma missão divina, seu propósito transcendia interesses pessoais, a motivação por trás de suas palavras: “Não fui eu que me dei a mim mesmo esta missão, mas foi Deus que me confiou” (1 Cor 9,16), deixa nos muito claro sua convicção. Frederick Fyvie Bruce, renomado estudioso do Novo Testamento, em (Paulo, o Apóstolo do Coração Livre), afirma que nosso personagem era, acima de tudo, um homem de princípios inabaláveis e sua paixão pela evangelização vinha de uma profunda convicção espiritual. Ainda, segundo José Comblin, em (A Teologia da Missão de Paulo), o apóstolo entendia que a verdadeira fé cristã não era apenas uma questão de crença pessoal, mas também de prática comunitária.

Em nossas comunidades como podemos seguir o exemplo de Paulo?
A prática pastoral inspirada em Paulo exige líderes servidores, que escutem, orientem e cuidem da comunidade, promovendo a união e a construção de pontes. Assim como Paulo, somos chamados a viver uma fé que una, a solidariedade, a justiça e o compromisso com a verdade de Cristo, a fé exige ação, cuidado com o próximo e uma esperança concreta em um futuro de redenção.


O gesto misericordioso de Deus
Ao final da nossa reflexão, recomendamos que leiam a Carta aos Efésios, encontraremos ali uma verdadeira reflexão sobre o pensamento paulino. Com sua fé firme e uma convicção sólida na mensagem que queria transmitir que era a crença na salvação vinda de Cristo, sua vida foi marcada por uma missão divina de cuidar de suas comunidades e de viver em esperança, mesmo diante das dificuldades. Se, em alguns momentos, sua postura parecia radical, isso se devia à força de sua convicção em Cristo. No entanto, sua mensagem ainda hoje é muito clara: o cristianismo verdadeiro não se vive de forma isolada, mas em comunidade, com amor, serviço e um compromisso profundo com o próximo, onde todas pessoas são convidadas na fé, a fazer parte da aliança. Se Paulo não viu Jesus, mas ouviu o Cristo, a sua experiência com o Ressuscitado não demonstra nenhum mérito vindo dele, mas do grande gesto misericordioso de Deus que o resgatou do domínio das trevas.

André Santiago, Diego da Silva Biondaro, Evandra Ranieri e Silvio Neuhaus
Estudantes do 4º período do curso de Teologia da PUCPR – Campus Londrina

Artigo produzido para a disciplina Cartas Paulinas, ministrada pelo professor Fabrízio Zandonadi Catenassi

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.