[dropcap]N[/dropcap]o domingo entre Natal e Ano Novo celebra-se a Festa da Sagrada Família. Esta festa recorda que o mistério da encarnação é um mistério de partilha. O Filho de Deus veio partilhar em tudo, exceto no pecado, da nossa condição humana. Veio para fazer parte da família humana, vivendo na obediência e no trabalho dentro de uma família concreta, embora única e irrepetível. Emergem, porém, nessa família os valores e as virtudes que devem caracterizar qualquer família cristã. A Bíblia relembra os deveres dos filhos para com os pais (Eclo 3,3-17) e apresenta a vida familiar segundo o mandamento do amor (Cl 3,12-21). O Evangelho lembra os principais momento da vida da Família de Nazaré: a fuga para o Egito (Mt 2,13-23); a apresentação do Menino Jesus no Templo (Lc 2,22-40); Jesus com 12 anos no templo (Lc 2, 41-52). A Igreja na sua oração pede que “em nossas famílias sejam vividas e floresçam as mesmas virtudes da Família de Nazaré e que os pais venerem o dom da vida”. Ainda lembra “que os pais se sintam participantes da fecundidade do amor de Deus e os filhos cresçam em sabedoria, piedade e graça”.

A Família continua sendo um das grandes questões na pastoral e no trabalho de evangelização. Nestes primeiros quatro meses de trabalho aqui na Arquidiocese de Londrina percebi a existência de vários movimentos, pastorais e grupos que se preocupam com a família promovendo encontros, reuniões, reflexões, etc. Isto, com certeza, deve continuar se avolumando na nossa pastoral. Há sempre uma família precisando da palavra de consolo da Igreja. Esta palavra é bom que venha através de famílias que vivem a alegria de serem seguidoras de Jesus Cristo. Em março de 2016 o Papa Francisco publicou a Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia – sobre o amor na família. Logo no primeiro número o Santo Padre fala dessa alegria: “a alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio, o desejo de família permanece vivo nas novas gerações. Como resposta este anseio, o anúncio cristão que diz respeito à família é deveras uma boa notícia” (n.01).

A Exortação Apostólica Amoris Laetitia fala com positividade da família. Inicia sugerindo uma ótima reflexão sobre o Salmo 128. Levanta vários temas do mundo da família: o relacionamento com a esposa, com os filhos, a presença do sofrimento, do mal, da violência que dilaceram a vida familiar. Sugere também uma reflexão sobre o trabalho e, por fim, sobre a ternura do abraço. Os outros capítulos falam sobre a realidade e os desafios das famílias; a vocação da família; o amor no matrimônio e ali reflete, palavra por palavra, o Hino da Caridade de ICor 13,4-7. O amor que se torna fecundo é objeto do capítulo V. As perspectivas pastorais ocupam os capítulos de VI a VIII. Nesta perspectiva o Santo Padre procura, sobretudo, não fazer julgamentos sobre os muitos obstáculos que a família enfrenta. Quer trabalhar com palavras-chave, ou palavras de ouro: Acompanhar, discernir e integrar a fragilidade. Quer dizer, nas entrelinhas, que não importa qual é o problema que a família concreta enfrenta, ela sempre tem o direito de ser seguidora ou discípula de Nosso Senhor Jesus. Parece que as palavras de ordem são: Proximidade, discernimento, Misericórdia e Integração com a família de hoje.

dom geremiasDom Geremias Steinmetz
Arcebispo Metropolitano de Londrina