Membro da Comissão Episcopal Pastoral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-Religioso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo de Cornélio Procópio (PR), na Província Eclesiástica de Londrina, é o novo presidente da comissão. O prelado foi eleito nessa quarta-feira, 8 de maio, durante o oitavo dia da Assembleia Geral da CNBB, em Aparecida (SP). O bispo, diante da pergunta do cardeal, disse sim para o desafio. Dom Manoel foi Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina de janeiro a agosto de 2017.

Dom Manoel sucede dom Francesco Biasin, agora bispo emérito de Campos (RJ). Desde 1 de junho de 2014, é bispo de Cornélio Procópio. Foi nomeado em 26 de março de 2014 pelo papa Francisco para suceder dom Getúlio Teixeira Guimarães, que se tornou emérito.

Dom Manoel João Francisco é natural de Machados, Itajaí (SC). Recebeu a ordenação presbiteral, em 8 de dezembro de 1973, em Navegantes (SC). Foi nomeado bispo em 28 de outubro de 1998 e tomou posse como bispo de Chapecó desde 21 de fevereiro de 1999.

Entre 2003 e 2007, foi presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia, da CNBB. Também atuou como referencial da Pastoral Indígena e da Liturgia no regional Sul 4 (Santa Catarina). Em 2011, foi eleito presidente do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (Conic).

CNBB Regional Sul 2

Dom Manoel foi Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina de janeiro a agosto de 2017 (Foto Tiago Queiroz)

 

Foto destaque CNBB

 

O Evangelho que vai ser proclamado no próximo domingo convida-nos a fazer do Reino de Deus nossa prioridade de vida. Qualquer outro valor deve passar para segundo plano, diante deste “tesouro” ou desta “pérola de grande valor” que é o Reino de Deus.

Para compreendermos melhor o que Jesus quer nos ensinar, parece-me importante aprofundar o que realmente significa a expressão “Reino de Deus.

No tempo de Jesus a expectativa do Reino de Deus era muito viva, por isso na sua interpretação, havia diversas correntes de opinião. A novidade de Jesus consistiu em dizer que o Reino de Deus já havia chegado e que não se identificava com nenhuma opinião em voga naquela época. Não foi fácil para Jesus propor um novo significado para a expressão “Reino de Deus” e fazer com que o povo e os discípulos compreendessem que se tratava de algo muito mais profundo, que exigia conversão das pessoas e transformação radical da sociedade, no sentido do amor a amigos e inimigos e da superação de todos os elementos contrários ao ser humano e a Deus.

Para os zelotas que eram nacionalistas e muitos discípulos influenciados por eles a proposta de Jesus foi uma decepção. “Nós esperávamos que fosse ele quem iria restaurar Israel” (Lc 24,21). No entanto, o Reino de Deus não se identifica com nenhum tipo de nacionalismo.

cruz reinoO Reino, segundo a pregação de Jesus, também não se equipara às descrições fantásticas dos apocalípticos sobre o fim do mundo. Jesus discorda ainda dos fariseus que pensavam apressar o advento do Reino com a observância minuciosa da Lei.

Segundo Jesus, não basta fazer o que a Lei ordena. A presente ordem das coisas não pode salvar o ser humano de sua alienação fundamental. Os que se negaram ir ao banquete de núpcias do filho do rei, negaram-se por motivos socialmente justos, e, em nada infligiram a lei. No entanto, foram excluídos do Reino.

Para participar do Reino de Deus exige-se o amor que não é objeto de legislação (Mt 21,14; Lc 14,16-24). Por isso os marginalizados da ordem vigente estão mais próximos do Reino do que os que se consideram em ordem.

Jesus se opõe também ao pensamento dos essênios que reduziam o Reino aos bens espirituais e se retiravam do mundo, para esperar, sem nada fazer, além das abluções rituais, a reconciliação universal. Não bastam as purificações rituais. O advento do Reino se faz através da conversão e da oposição, não da fuga, ao projeto deste mundo.

Segundo Leonardo Boff, o Reino de Deus, é a manifestação definitiva do poder de Deus sobre o mundo dominado pelas forças satânicas e a restauração de toda a criação com o aparecimento de novos céus e novas terras. É vida com Deus, perdão dos pecados e futuro feliz. É uma nova ordem do mundo, onde Deus é tudo em todas as coisas. Não é premio para os piedosos e castigo para os pecadores. Antes, pelo contrário, é boa nova para os pecadores e para todos que se convertem. É historização da utopia fundamental da humanidade, concretização de um mundo totalmente reconciliado, libertado de tudo o que oprime e purificado de todos os males. É mais que bem estar social, mais que qualquer avanço no domínio da natureza que venha em benefício da sociedade. O Reino não se identifica com nada deste mundo, nem mesmo com a Igreja.

Na oração do Pai Nosso pedimos: “venha a nós o vosso Reino”. Na raiz desta súplica está uma atitude de fundamental esperança. Pela esperança se atualiza o futuro e se proclama que o Reino “já” está presente na história ou pode se fazer presente, ao mesmo tempo que se confessa que “ainda não” alcançou sua plenitude e precisa ser instaurado.

A instauração do Reino exige conversão, ou como fala o Evangelho do próximo domingo, exige que “se venda tudo” para adquiri-lo.

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo Diocesano de Cornélio Procópio

Pai

No Evangelho do próximo domingo Jesus nos apresenta Deus como Pai. Em apenas três versículos repete cinco vezes a palavra “Pai”.

“Eu te louvo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos. Sim Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai, e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,25-27).

A compreensão de Deus como Pai é anterior ao cristianismo. Na literatura grega, com certa freqüência, Zeus é chamado de “pai dos homens e dos deuses” (Ilíada 1,544; Odisseia 1,28).

Em Israel, Deus aparece como Pai amoroso que guia e protege o seu povo. O livro do Deuteronômio, ao repreender o povo que, de cabeça dura, não seguia as orientações dadas, assim se expressa: “É assim que agradeceis ao Senhor, povo louco e insensato? Não é ele o Pai que te criou? Quem te fez e te formou?” (Dt 32,6).

Os profetas em suas exortações também insistem em falar da paternidade de Deus. Oseias descreve de modo comovente o amor paterno de Deus para com seu povo.

“Quando Israel era criança eu o amava, do Egito chamei meu filho. Sim, fui eu quem ensinou Efraim a andar, segurando-o pela mão. Só que eles não percebiam que era eu quem deles cuidava. Eu os lacei com laços de amizade, eu os amarrei com cordas de amor; fazia com eles como quem pega uma criança ao colo e a traz até junto ao rosto. Para dar-lhes de comer eu me abaixava até eles. Como poderia eu abandonar-te Efraim? Como poderia entregar-te, Israel?” (Os 11,1.3-4.8).

Isaías, depois de recordar ao povo as maravilhas feitas por Deus, conclui sua exortação dirigindo-se a Deus com estas palavras: “O nosso Pai és tu…És tu mesmo, Senhor, o nosso Pai, o nosso libertador, teu nome é eterno” (Is 63,16).

O autor do Eclesiastes invoca a Deus como “Senhor meu Pai”. “Senhor, Pai e Soberano de minha vida….Senhor, Pai e Deus de minha vida, não me abandones às suas sugestões. Não me dês a arrogância dos olhos e afasta de mim todo o mau desejo” (Eclo 23,1.4-5). O livro da Sabedoria, mais uma vez, recordando a história do povo, exclama: “Mas é a tua Providência, ó Pai, que segura o leme, porque até no mar abriste caminho e uma rota seguríssima entre as ondas” (Sb 14,3).

Entre as muitas orações do Talmud, encontra-se esta: “Pai nosso, Pai misericordioso, que derramas tua misericórdia sobre nós, dá ao nosso coração a faculdade de discernir, compreender, entender, aprender, ensinar, observar, cumprir e manter todas as palavras pelo estudo da tua Torah, com amor”.

Se assim era, qual então a novidade do ensinamento de Jesus? A novidade está na atitude de confiança, de proximidade e familiaridade. Para Jesus, Deus não era simplesmente Pai, mas Papai.

deus pai1“Se chamamos a Deus de Pai, precisamos agir como filhos, para que do mesmo modo que nos alegramos com Deus Pai, ele também se alegre conosco”, recorda São Cipriano, bispo do século III, que viveu em Cartago, no Norte África.

Em nossos dias, o Papa Francisco tem lembrado com insistência que Deus é nosso Pai, muito próximo de nós, sempre pronto a nos ajudar. Nas palavras do Papa, “Deus não é um ser distante e anônimo: é nosso refúgio, a fonte de nossa serenidade e de nossa paz. É a rocha de nossa salvação, a quem podemos agarrar-nos na certeza de não cair. Quem se agarra a Deus não cai. Ele é a nossa defesa do mal sempre à espreita. Deus é para nós um grande amigo, o aliado, o pai, mas nem sempre nos damos conta disso. Preferimos apoiar-nos em bens imediatos e contingentes, esquecendo e, às vezes, rejeitando o bem supremo, isto é o amor paterno de Deus. Sentir Deus como Pai, nesta época de orfandade é tão importante! Nós nos afastamos do amor de Deus quando vamos em busca obsessiva dos bens terrenos e das riquezas, manifestando assim um amor exagerado por estas realidades”.

Diante da ternura de Deus, nosso Pai, cabe-nos imitar Santa Teresinha do Menino Jesus. Certa ocasião, relata sua irmã, ela estava costurando com muita habilidade e, ao mesmo tempo, imersa em grande contemplação. Então lhe perguntei: “Em que pensas?” “Medito o Pai”, respondeu ela. “É tão doce chamar Deus de Pai”. E duas lágrimas brilharam em seus olhos.

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio-PR

 

No próximo domingo estaremos celebrando a solenidade de Pentecostes, ou seja, estaremos revivendo a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos e Nossa Senhora reunidos no cenáculo. Segundo o texto bíblico este acontecimento se deu cinquenta dias após a Páscoa.

Neste dia os Judeus também celebram a festa da colheita ou das primícias, mais conhecida como “festa das semanas”, porque, por determinação de Moisés, acontecia na sétima semana depois da Páscoa. Mais tarde, os rabinos acrescentaram, à natureza, a motivação histórica.

Segundo eles, a promulgação da Lei, no monte Sinai, aconteceu cinquenta dias depois da saída do Egito. Por isso, além da colheita e das primícias, nas “festas das semanas”, ou Pentecostes, os judeus celebravam também a revelação da Aliança e a dádiva da Torá (Lei) no Sinai.

Pentecostes era uma das três festas, durante as quais todo judeu piedoso peregrinava à Jerusalém. Nestas oportunidades, a população de Jerusalém triplicava. De trinta mil passava a noventa mil pessoas. Elas vinham de todas as partes do mundo então habitado.

Por isso, quando o Espírito Santo desceu sobre os Apóstolos, produzindo um grande ruído, pessoas de diversos países ou regiões acorreram ao local para ver o que estava acontecendo. Segundo o livro dos Atos dos Apóstolos eram peregrinos provenientes da Partia, da Média, do Elam, da Mesopotâmia, da própria Judeia, da Capadócia, do Ponto, da Ásia, da Frígia, da Panfília, do Egito, da Líbia, de Cirene e de Roma.

A coincidência da vinda do Espírito Santo com a festa de Pentecostes dos Judeus, não passou despercebida aos primeiros cristãos. Assim como viram na Páscoa, a celebração da libertação do pecado e da morte, também viram no Pentecostes cristão a festa das primícias da Igreja, da promulgação da nova Lei e da oficialização da nova Aliança.

No século III, Tertuliano apresenta a festa de Pentecostes, como o segundo dia mais favorável para celebrar o batismo das pessoas. O primeiro dia, naturalmente, era a Páscoa. No pensamento de Santo Agostinho, fim do século IV, a Páscoa significa o início da graça, o Pentecostes a coroação desta mesma graça. As Constituições Apostólicas, uma compilação de vários documentos anteriores ao século IV, determinavam que a festa de Pentecostes fosse celebrada durante uma semana.

Ainda no século IV, a monja Etéria nos informa que a festa de Pentecostes, em Jerusalém, era celebrada com a leitura dos Atos dos Apóstolos, na passagem que fala da descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos. No ano 425, o Imperador Teodósio II, proibiu a realização de jogos durante a semana de Pentecostes.

Na missa de Pentecostes, após a segunda leitura, se canta a sequência Veni Sancte Spiritus, um poema, atribuído por uns a Stephen Langton, arcebispo de Cantuária, na Inglaterra, no século XIII, por outros ao Papa Inocêncio III, também do século XIII. Tão grande é sua beleza poética e melódica que ficou conhecida como “Sequência de Ouro”. Um autor medieval a considera “acima de todos os louvores, por conta de sua maravilhosa doçura, clareza de estilo e agradável concisão, combinada com uma riqueza de pensamento, de modo que cada linha é uma sentença”.

A beleza deste poema continua a tocar o coração dos cristãos de hoje. Num comentário recente, Alfredo Votta assim se expressa: “O compositor deste canto era uma verdadeira harpa de Deus tocada pelo próprio Espírito Santo. Seus sons permanecerão por tanto tempo quanto a humanidade recorrer, em oração sincera, ao “Pai dos pobres”. Quem quer que perceba a carência de seu próprio coração, quem quer que simpatize com tudo aquilo que move o seu coração e o coração de seus irmãos, quem quer que reflita, enquanto medita o texto e seu desenvolvimento melódico, sobre a obra do Espírito Santo nas almas e na Igreja, alcançará a mais adequada interpretação deste canto magnífico”.

Não resta dúvida, este é um poema muito bonito que merece ser rezado e meditado, não apenas na celebração litúrgica, mas também em outros momentos, como alimento de nossa espiritualidade cristã. Senão, vejamos!

Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz!

Vinde, Pai dos pobres, daí aos corações vossos sete dons.

Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde!

No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem.

Enchei, luz bendita chama que crepita, o íntimo de nós!

Sem a luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele.

Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente, dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei.

Daí à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons.

Daí em premio ao forte uma santa morte, eterna! Amém.

 

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina

No próximo domingo a Igreja católica do mundo todo celebra a solenidade da Ascensão do Senhor. Vamos reafirmar o que todos os domingos rezamos na profissão de fé: “(Jesus) subiu aos céus; está sentado à direita de Deus Pai todo-poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos”. Esta celebração é também mais uma oportunidade para, de novo, expressar nosso júbilo e nossa esperança. Na oração do dia (coleta) rezamos: “A ascensão do vosso Filho já é nossa vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois membros de seu corpo, somos chamados na esperança a participar de sua glória”.

Segundo o testemunho de Etéria, a monja espanhola que, por volta de 385, peregrinou para Jerusalém, naquela cidade, a Ascensão do Senhor era celebrada no dia de Pentecostes à tarde. Mais ou menos na mesma época, São João Crisóstomo, patriarca de Constantinopla, em seus sermões, refere-se à Ascensão do Senhor como uma solenidade antiga. Santo Agostinho, no norte da África, fala da Ascensão, no contexto das grandes festas da Igreja, celebradas no mundo inteiro: Paixão, Ressurreição, Ascensão e Pentecostes. O Concílio de Agda, (506) em seu cânon 21, põe a solenidade da Ascensão entre os dias mais importantes da liturgia da Igreja.

No século VIII, em Jerusalém, a solenidade da Ascensão do Senhor, já não era mais celebrada no dia de Pentecostes, mas no 40º dia após a Páscoa, de acordo com o relato dos Atos dos Apóstolos. No entanto, deste o século IV, esta já era a prática em outras Igrejas. São Leão Magno, que morreu em 461, começa o seu primeiro sermão da Ascensão do Senhor, dizendo: “Hoje, caríssimos, completam-se os quarenta dias santificados, dispostos segundo um plano sagrado e empregados para a nossa instrução, a contar da bem-aventurada e gloriosa ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, quando o poder divino reergueu no terceiro dia o verdadeiro templo de Deus, destruído pela impiedade dos judeus”.

São Máximo de Turim, na metade do século IV, em quatro de seus sermões, fala da solenidade da Ascensão do Senhor, dizendo que “o Senhor, depois de sua ressurreição, permaneceu com os Apóstolos, durante quarenta dias, no fim dos quais subiu à direita do Pai. Durante quarenta dias, o Salvador permitiu que os seus discípulos gozassem da sua presença, para que também nós nos alegrássemos com a sua ressurreição, durante um tempo igual ao que tínhamos ocupado meditando no sofrimento as dores de sua paixão”.

Segundo São Leão Magno, Jesus subiu ao céu quarenta dias após a ressurreição para fortalecer a fé dos apóstolos. “A morte de Cristo turbara muito os corações dos discípulos; certo torpor de desconfiança havia se insinuado nos espíritos opressos de tristeza, por causa do suplício da cruz, do último suspiro e do sepultamento do corpo exânime. Por isso, quando as santas mulheres, como narra a história evangélica, anunciaram que a pedra havia sido rolada do túmulo, o sepulcro estava vazio e os anjos tinham testemunhado que o Senhor vivia, suas palavras pareceram aos apóstolos e aos outros discípulos uma espécie de delírio. (…). Durante o tempo, caríssimos, decorrido entre a ressurreição e a ascensão do Senhor, a Providência de Deus estabeleceu, ensinou diante dos olhos e dos corações dos seus, que reconhecessem ter o Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como verdadeiramente havia nascido, sofrido e morrido”.

Em nossos dias, a liturgia também nos ensina que Jesus, “após a ressurreição, apareceu aos discípulos e, à vista deles, subiu aos céus, a fim de nos tornar participantes da sua divindade”. Ensina a ainda que a ascensão do Senhor não foi para se afastar de nós, mas para dar-nos a certeza da imortalidade gloriosa.

O Papa Francisco, falando sobre a Ascensão do Senhor diz que ao ir para o céu Jesus leva ao Pai um presente: as suas chagas. “Quando o Pai olha para as chagas de Jesus, perdoa-nos sempre, não porque somos bons, mas porque Jesus pagou por nós. Olhando para as chagas de Jesus, o Pai se torna misericordioso. Este é o grande trabalho de Jesus hoje no céu: fazer ver ao Pai o preço do perdão, as suas chagas”.

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo Diocesano de Cornélio Procópio

 

No dia de sua ressurreição, Cristo apareceu para os Apóstolos e disse ser ele mesmo missionário do Pai. Em seguida, enviou seus discípulos e missão. “Assim como o Pai me enviou, eu vos envio”(Jo 20,21)

Nossa Igreja nasceu missionária. A missionariedade está no seu DNA. Neste sentido, o Papa Francisco tem sido enfático, afirmando com todas as letras que o trabalho missionário é tarefa de todo católico e de toda católica. Citando o Documento de Aparecida, lembra que “não podemos ficar tranquilos, em espera passiva, em nossos templos” sendo necessário passar “de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária” (EG 15). O Papa, diz mais: A Igreja deve ser “uma Igreja em saída”, sem medo de tomar iniciativas, de ir ao encontro, de envolver-se, de encurtar distâncias, de procurar os afastados e de chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos (EG 24).

Portanto, não se trata de uma opção à qual uns poderão aderir e outros não. No momento em que os cristãos não sentirem mais motivação para anunciar o Evangelho, a Igreja deixará de ser Igreja. Trata-se de ser ou não ser. “Se anuncio o Evangelho, não tenho de que me gloriar, pois que me foi imposta esta obrigação: ai de mim se não evangelizar” (1Cor 9,16).

O Papa Paulo VI traduz, para os dias de hoje, a preocupação de São Paulo da seguinte forma: “A apresentação da mensagem evangélica não é para a Igreja uma contribuição facultativa: é um dever que lhe incumbe, por mandato do Senhor Jesus, a fim de que os homens possam acreditar e ser salvos. Sim, esta mensagem é necessária; ela é única e não poderá ser substituída. Assim, ela não admite indiferença, nem sincretismo, nem acomodação. É a salvação dos homens que está em causa” (EN 5).

Poderá parecer estranho falar em missão no mundo de hoje, marcado pela pluralidade e pela liberdade de opção, principalmente no campo religioso. De fato, para muitos, o anúncio da mensagem evangélica perdeu sua primazia e o esforço de conduzir as pessoas para a Igreja tornou-se secundário.

Apesar destes questionamentos a Igreja continua reafirmando que o mandato missionário feito por Cristo, no momento de voltar para o Pai, continua válido.

A saída está no testemunho e no diálogo. Em sua tarefa missionária, os cristãos não pretendem nem convencer nem converter ninguém. Buscam apenas testemunhar sua fé e dialogar, respeitando as pessoas e as culturas, conscientes de que a consciência das pessoas é um sacrário que não se pode violar.

Como muito bem lembra o Papa Francisco na encíclica A Luz da Fé: “Quem crê não é arrogante; ao contrário, a verdade o faz humilde, sabendo que mais do que nós a possuirmos, é ela quem nos circunda e possui. Longe de enrijecer-nos, a segurança da fé nos põe a caminho e torna possível o testemunho e o diálogo com todos” (n.34).

Ao testemunho segue-se o diálogo que pode acontecer de quatro formas diferentes.

  1. a) Diálogo da vida, quando o cristão faz suas as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos seus irmãos, principalmente dos pobres e de todos os que sofrem (cf. GS 1).
  2. b) Diálogo das obras, quando o cristão colabora com outras pessoas, inclusive com as que pensam de forma diferente e têm outra religião, na construção de um mundo de fraternidade e solidariedade, ou seja, na antecipação do Reino de Deus.
  3. c) Diálogo dos intercâmbios teológicos, quando o cristão tenta compreender e aprofundar os valores espirituais de irmãos de outra religião, ou daqueles que não professam religião nenhuma.
  4. d) Diálogo da experiência religiosa, quando o cristão partilha sua experiência de fé com irmãos que professam fé diferente ou se dizem agnósticos.

O Papa Francisco explica que ação missionária realiza-se em três âmbitos.

O primeiro âmbito é o da pastoral ordinária. Orienta-se “para o crescimento dos crentes, a fim de corresponderem cada vez melhor e com a sua vida ao amor de Deus” (EG 14).

O segundo âmbito ocupa-se das pessoas batizadas, mas que não vivem as exigências do batismo. São os católicos de ocasião. “Mãe sempre solícita, a Igreja esforça-se para que elas vivam uma conversão que lhes restitua a alegria da fé e o desejo de se comprometerem com o Evangelho” (EG 14).

O terceiro âmbito tem como objetivo proclamar “o Evangelho àqueles que não conhecem Jesus Cristo ou que sempre o recusaram” (EG 14). A todos, mas especialmente a estes últimos, o Evangelho precisa ser anunciado como experiência de vida. Não se pode esquecer nunca que “a Igreja não cresce por proselitismo, mas por atração” (EG 14).

Diante das exigências da missão, em nossos dias, por onde começar?

Com o Papa João Paulo II, vamos responder que “o chamado à missão deriva, por sua natureza, da vocação à santidade. Todo missionário só o é, autenticamente, se se empenhar no caminho da santidade” (RM 90).

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo Diocesano de Cornélio Procópio 


No imaginário dos católicos, o mês de maio tem tudo a ver com Nossa Senhora. No entanto, maio também lembra trabalho e trabalhador.

O Dia Mundial do Trabalho, celebrado no dia 1º, foi criado pela Segunda Internacional Socialista ocorrida em Paris no dia 20 de junho de 1889. A intenção foi homenagear os trabalhadores mortos nas lutas em defesa de melhores condições de trabalho, entre elas, a redução da jornada de treze para oito horas diárias.

No Brasil, tudo indica que a data já vem sendo comemorada desde 1895. Sua oficialização, no entanto, ocorreu somente em 1925, através de um decreto do então presidente Artur Bernades.

jesus maria joseTudo o que é verdadeiramente humano ressoa no coração dos cristãos. Por isso a Igreja em 1955, assumiu os ideais do Dia do Trabalhador instituindo a festa de São José Operário, como festa da consagração cristã do trabalho.

Na concepção cristã, o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência humana. É uma das características que distinguem o ser humano das demais criaturas (…). Somente o ser humano tem capacidade para o trabalho e somente ele o realiza, preenchendo ao mesmo tempo sua existência sobre a terra. “O trabalho é a possibilidade de nossa realização, de nossa transformação. É mais que ganha pão, é maturação de nossa pessoa”.  Pelo trabalho, o ser humano dá continuidade à criação iniciada por Deus. Além disso, Jesus Cristo, o Filho de Deus feito homem, passou a maior parte de sua vida na terra, junto de um banco de carpinteiro. Este fato faz-nos compreender que o valor e a dignidade do trabalho humano não dependem do tipo de trabalho que se realiza, mas do fato de ser executado por uma pessoa. O trabalho, por isso, é direito fundamental e bem essencial para o ser humano. Através do trabalho “o homem não somente transforma a natureza, adaptando-a às suas próprias necessidades, mas também se realiza a si mesmo como homem e até, em certo sentido, “se torna mais homem” (Laborem exercens, 9). Por isso, a ninguém pode ser negado o direito de trabalhar e nem de ser desprezado pelo trabalho que realiza. O Papa Francisco em seu discurso aos participantes do encontro mundial dos movimentos populares afirmou com toda clareza: “Não existe pior pobreza material – faço questão de frisar – do que aquela que não permite ganhar o pão e priva da dignidade do trabalho”.

Compete ao Estado, através de políticas públicas, assegurar o direito ao trabalho dentro dos parâmetros da ética e do respeito à dignidade humana.

Como cristãos e como Igreja, reconhecemos e defendemos os seguintes direitos de todo trabalhador e trabalhadora: 1) direito a uma justa remuneração; 2) direito ao repouso; 3) direito a ambientes de trabalho que favoreçam a saúde física e respeitem a integridade moral; 4) direito ao respeito à sua consciência e à sua dignidade; 5) no caso de desemprego, direito a subvenções indispensáveis para a sua subsistência e de sua família; 6) direito de pensão e aposentadoria para a velhice, doença e acidentes de trabalho; 7) direito a disposições sociais referentes à maternidade; e 8) direito de reunir-se e de associar-se.

Esses direitos correm o risco de serem anulados pelo texto do projeto de reforma trabalhista que tramita na Câmara dos Deputados em Brasília. Tudo indica que se quer garantir às empresas o lucro, mesmo que para isso se negue ao trabalhador direitos duramente conquistados. Na opinião do sociólogo, Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Dieese, em artigo publicado no último dia 18, este projeto que estão querendo aprovar a toque de caixa, sem possibilidade de debate por parte da sociedade, “é a desregulação do trabalho, com a oferta de amparo legal à inúmeras práticas empresariais que hoje são proibidas na lei”.

O povo brasileiro não pode deixar que isso aconteça. Neste sentido é preciso mobilizar-se. Está sendo programada para o dia 28, sexta feira, uma grande mobilização, como alerta ao governo de que o povo não aceita as propostas de reforma trabalhistas, da Previdência e terceirização, (infelizmente já aprovada), todas em prejuízo do pobre trabalhador.

mobilizacao2A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em nota divulgada no dia 23 do mês passado, afirma que a proposta de reforma da Previdência “escolhe o caminho da exclusão social” e convoca os cristãos e pessoas de boa vontade “a se mobilizarem para buscar o melhor para o povo brasileiro, principalmente os mais fragilizados”.

Vamos nos mobilizar! Estamos vivendo o tempo da Páscoa que significa passagem de uma situação de morte para uma situação de vida. As reformas proposta pelo governo são ameaças sérias a vida do povo trabalhador. Nossa Páscoa será vazia de sentido, se ficarmos apenas assistindo “a banda passar”.

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio

Dom Manoel Francisco e a Arquidiocese de Londrina convidam e motivam todos os(as) leigos(as), coordenadores, jovens, presbíteros e religiosos(as) a participarem do dia de paralisação nacional, 28 de abril (sexta feira).
A pauta principal consiste na postura contra as Reformas (Previdência, Trabalhista e Terceirização) apresentadas pelo governo que comprometem diretamente os direitos da população.
Em Londrina a concentração popular iniciará no Terminal Central (Rua Benjamin Constant) às 9h30.

Todos estão convidados. “Cristo Ressuscitado ilumine, conduza e fortaleça o seu povo”.

 

No próximo domingo, segundo da Páscoa, no mundo inteiro, nós católicos estaremos celebrando O Domingo da Divina Misericórdia, instituído pelo Papa São João Paulo II em maio do ano 2000.

“Ser misericordioso é próprio de Deus e é pela misericórdia que ele principalmente manifesta a sua onipotência” (São Tomás de Aquino em sua obra máxima, intitulada Suma Teológica II-II,30,4).

O Papa Francisco expressa esta mesma doutrina da seguinte forma: “Misericórdia é a atitude divina que abraça, é o doar-se de Deus que acolhe, que se dedica a perdoar. Jesus disse que não veio para os justos, mas para os pecadores. Não veio para os sadios, que não precisam de médico, mas para os doentes. Por isso, pode-se dizer que a misericórdia é a carteira de identidade do nosso Deus. Deus de misericórdia. Deus misericordioso. Para mim esta é de fato a carteira de identidade do nosso Deus”.

Tão importante é a misericórdia de Deus que, ainda segundo o Papa Francisco, sem ela o mundo não existiria. Mesmo assim, “a mentalidade contemporânea tende a tirar do coração humano a idéia de misericórdia”. Em seu lugar, prefere a palavra “justiça”. No entanto, “a justiça sozinha não basta. A experiência ensina que quando se apela somente à justiça corre-se o risco de destruí-la”. Daí se conclui o quanto é importante que, neste domingo da misericórdia, acolhamos a mensagem proposta pela Palavra de Deus.

O Papa São João Paulo II, em 2001, comentando o Evangelho deste domingo assim se expressou: “O Evangelho que há pouco foi proclamado, ajuda-nos a compreender plenamente o sentido e o valor deste dom. O evangelista João nos faz partilhar a emoção sentida pelos Apóstolos no encontro com Cristo depois da ressurreição. A nossa atenção detém-se no gesto do Mestre que transmite aos discípulos receosos e admirados a missão de serem ministros da Misericórdia divina. Ele mostra as mãos e o lado com os sinais da paixão e comunica-lhes: “Assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós” (Jo 20, 21). Imediatamente a seguir, “soprou sobre eles e disse-lhes: recebei o Espírito Santo; àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados, àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20, 22-23). Jesus confia-lhes o dom de “perdoar os pecados”, dom que brota das feridas das suas mãos, dos seus pés e sobretudo do seu lado trespassado. Dali sai uma vaga de misericórdia para toda a humanidade. Revivemos este momento com intensidade. Também hoje o Senhor nos mostra as suas chagas gloriosas e o seu coração, fonte ininterrupta de luz e de verdade, de amor e de perdão”.

domingo in albisEm 2004, comentando o mesmo Evangelho, de novo, o Papa São João Paulo II assim se expressou: “Hoje, Domingo in Albis, celebramos o Domingo da Misericórdia Divina. O Senhor envia-nos também para levar a todos a sua paz, fundada no perdão e na remissão dos pecados. Trata-se de um dom extraordinário, que ele quis unir com o sacramento da penitência e da reconciliação. Quanta necessidade tem a humanidade de conhecer a eficiência da misericórdia de Deus nestes tempos marcados por crescente incerteza e conflitos violentos!

Ainda na homilia de 2001, o Papa chama a atenção para Salmo Responsorial. “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; eterna é a sua misericórdia!” (Sl 117, 1). Para compreendermos profundamente a verdade destas palavras, disse o Papa, deixemo-nos conduzir pela liturgia ao centro do acontecimento da salvação, que une a morte e a ressurreição de Cristo à nossa existência e à história do mundo. Este prodígio de misericórdia mudou radicalmente o destino da humanidade. É um prodígio em que se abre em plenitude o amor do Pai que, pela nossa redenção, não se poupa nem sequer perante o sacrifício do seu Filho Unigênito. Em Cristo humilhado e sofredor, crentes e não-crentes podem admirar uma solidariedade surpreendente, que o une à nossa condição humana para além de qualquer medida imaginável. Também depois da ressurreição do Filho de Deus, a Cruz fala e não cessa de falar de Deus Pai, que é absolutamente fiel ao seu eterno amor para com o homem. Crer neste amor significa acreditar na misericórdia.

Neste domingo da misericórdia somos convidados a fazer da misericórdia uma de nossas virtudes cotidianas. Não esqueçamos nunca que “da acolhida ao marginalizado que está ferido no corpo e da acolhida ao pecador que está ferido na alma, depende a nossa credibilidade como cristãos”. Recordemos sempre as palavras de São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”.

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio

 

Até o século VII, na liturgia romana, a quinta feira santa foi reservada para a celebração de reconciliação dos penitentes. Contudo, no decorrer daquele mesmo século, como atesta o sacramentário gelasiano, houve uma mudança substancial. Passaram a ser celebradas três missas: Uma, de manhã cedo, para a reconciliação dos penitentes, outra ao meio dia, para consagrar o óleo da crisma, abençoar o dos catecúmenos e o dos enfermos, e uma terceira, ao entardecer ou nas primeiras horas da noite para fazer memória da Ceia do Senhor. No século X, no Pontifical Romano-Germânico não aparece mais a missa da manhã, apenas a missa crismal ao meio dia e a missa “In Cena Domini”, no início da noite.

missa santos oleos 2014
Missa Santos Óleos ano 2014 (foto Arquivo PASCOM)

Hoje, num mundo em que todos vivem apressados, não é mais possível celebrar com proveito nem mesmo as duas missas que sobraram. Por isso a reforma prescrita pelo Concílio Vaticano II, embora, prescreva que a missa crismal seja celebrada na quinta feira santa, permite que seja também em outro dia, “contanto que, nas proximidades da Páscoa e sempre com missa própria”. Na Diocese de Cornélio Procópio, a missa crismal é celebrada na 4ª feira santa. Neste ano vai ser na paróquia Divino Espírito Santo, na cidade de Curiúva. Na Arquidiocese de Londrina, é celebrada na terça feira santa. Neste ano, além de expressar “a plenitude do sacerdócio do Bispo e ser sinal da íntima união dos presbíteros com ele” a celebração também pretende dar graças a Deus pelos 60 anos de existência da Arquidiocese e se unir às comemorações do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida que está acontecendo em todo o Brasil.

O decreto de 1965 que introduz algumas mudanças no rito da semana santa fala que a possibilidade de se celebrar a missa crismal num outro dia que não a 5ª feira santa é para “atender melhor a finalidade desta missa e tornar mais fácil a ativa participação dos fiéis”. Outro documento intitulado “Preparação e Celebração das Festas Pascais, de 1988, aduz mais um motivo para a mudança do dia: “Com efeito, o novo Crisma e o novo óleo dos catecúmenos devem ser usados na noite da vigília pascal, para a celebração dos sacramentos da iniciação cristã”. Este último documento determina também que a missa crismal seja celebrada uma única vez e que “os fiéis sejam encarecidamente convidados a participar desta missa e a receber o sacramento da eucaristia durante a sua celebração”. Orienta ainda para que o acolhimento dos santos óleos seja feito em cada uma das paróquias da diocese na missa vespertina “In Cena Domini”, na 5ª feira santa. Segundo o documento, “isto poderá ajudar a compreensão dos fiéis sobre o significado do uso dos santos óleos e do Crisma, e da sua eficácia na vida cristã”.

Com o santo Crisma são ungidos os bispos e os padres quando são ordenados. É também usado na celebração dos sacramentos da crisma e do batismo, e ainda, na dedicação de igrejas e altares. Com este óleo se “mostra que os cristãos inseridos pelo Batismo no mistério pascal de Cristo, mortos e sepultados com o Senhor e com ele ressuscitados, se tornam participantes do seu sacerdócio real e profético, e, pela Confirmação, recebem a unção espiritual do Espírito Santo que lhes é dado”.

Se por acaso, durante o ano, vier a faltar o santo Crisma, a liturgia não prevê outra oportunidade para consagrá-lo. Por isso, o volume a ser consagrado deve ser o suficiente para evitar situações embaraçosas.

missa santos oleos 2016
Missa Santos Óleos ano 2016 (foto Tiago Queiroz)

As orientações da Igreja afirmam que com o óleo dos catecúmenos se preparam os candidatos para o Batismo e se amplia o efeito dos exorcismos. “Com ele os batizandos são fortalecidos para poderem renunciar ao demônio e ao pecado, antes de se aproximarem da fonte da vida e de nela renascerem”.

Se por acaso vier a faltar, o óleo dos catecúmenos pode ser abençoado pelo padre, antes da unção, durante a celebração.

O óleo dos enfermos usado na celebração do sacramento da Unção dos Enfermos, caso venha faltar, também pode ser abençoado pelo padre na própria celebração do sacramento.

Embora seja recomendada a participação dos fiéis em sua celebração, a missa crismal ainda continua dando uma grande acentuação para o ministério presbiteral. A missa do santo Crisma precisa alcançar seu verdadeiro sentido: ser sinal visível de uma Igreja toda ministerial, hierarquicamente organizada. Esta missa, como muito bem dizia, o Beato Oscar Romero, é “a missa em que rendemos honra ao Divino Espírito Santo que unge com sua força divina os presbíteros para fazê-los ministros da misericórdia de Deus para o povo, e unge também o povo com o caráter sacerdotal que os leigos receberam no dia do Batismo”.

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina
Bispo da Diocese de Cornélio Procópio

Foto destaque: Missa dos Santos Óleos ano 2015 / Arquivo PASCOM