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A solenidade de Cristo Rei é uma data muito recente. Foi instituída em 1925 por Pio XI, que a estabeleceu para o último domingo de outubro. Na encíclica Quas primas, o Pontífice declara que esta festividade quer afirmar a soberana autoridade de Cristo sobre os homens e sobre as instituições diante do progresso do laicismo na sociedade moderna. Um texto litúrgico da época o deixava transparecer nestes termos: “a grande família das nações, desagregada pelas feridas do pecado, se submeta ao seu suave império”. Atualmente esta solenidade é interpretada em sentido mais espiritual e escatológico. O mesmo título “Cristo Rei do Universo” alarga a prospectiva do primado de Cristo, registrado no Hino Cristológico de Colossenses 1,12-20.

 

A Reforma Litúrgica pós-conciliar mudou a sua comemoração para o último domingo do Ano Litúrgico e assim a coloca no sentido escatológico que é próprio deste domingo. A Oração Collecta assim expressa: “Faça que cada criatura, livre da escravidão do pecado, te sirva e te louve sem fim”. Apesar de termos esta solenidade em um dia determinado, cada domingo, Dia do Senhor, é uma celebração da realeza de Cristo e proclama sua soberania. Neste sentido, o último domingo do Ano Litúrgico celebra de maneira orgânica aquilo que constitui o núcleo de todas as  celebrações dominicais. Deixa claro também que o Senhor exaltado é o destino final do ano litúrgico e também da peregrinação terrena da Igreja e de seus membros.

 

A centralidade de Jesus Cristo no Mistério de Deus se acentua e se fortalece, com reflexos totalmente próprios e peculiares na liturgia de tal forma que ela é chamada de cristocêntrica. O cristocentrismo da liturgia encontra seu fundamento primeiramente no fato de que Cristo é o sujeito principal do culto que é prestado a Deus. O Mistério de Cristo está particularmente presente e é especialmente operante na Liturgia. Cristo é a primeira realidade litúrgica. A Cristo estão ligadas, para Cristo convergem, de Cristo dependem e recebem eficácia todas as outras realidades litúrgicas.

 

Particular ênfase dessa realidade provém do fato de que Cristo é termo do culto, além de ser sujeito do culto elevado a Deus pela Igreja também é o seu alvo e objetivo. Ele rezou por nós como nosso sacerdote, reza em nós como nosso chefe e nossa cabeça, rezou em nosso lugar como nosso Deus. Desde a mais remota antiguidade a Igreja dirigiu a sua oração a Cristo. Na Santa Missa, inclusive, rezamos: Por Cristo, com Cristo e em Cristo.

 

Jesus Cristo é o centro do Ano Litúrgico. Basta pensar no destaque que se confere neste último à Páscoa semanal, todo domingo, e à Páscoa anual, no sagrado Tríduo Pascal. A grande realidade central da cristologia, a Páscoa de Cristo, recebe assim a máxima evidência na estruturação do Ano Litúrgico. A celebração da Páscoa continua sendo sempre o centro da atenção da Igreja no decorrer do Ano Litúrgico, durante o qual distribui a celebração dos outros mistérios de Cristo, intimamente ligados à sua Páscoa. Todos estes outros mistérios recordam, fazem memória e celebram o único Mistério Pascal de Jesus Cristo. A Ele converge toda a realidade. Por isso, exatamente, a Igreja quis instituir a Festa de Jesus Cristo Rei do Universo.

Dom Geremias Steinmetz
Arcebispo de Londrina

Artigo publicado na Revista Comunidade edição novembro 2021
Foto destaque: Pe. Lawrence Lew

 

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