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“Anunciar o Evangelho e doar a própria vida” (cf. 1Ts 2,8)

mes da biblia 2017[dropcap]D[/dropcap]ia 30 de setembro é dia de São Jerônimo, um dos maiores biblistas de todos os tempos. Por isso, a Igreja dedica o mês de Setembro à Palavra de Deus. Todo ano, é escolhido um texto ou livro da Bíblia para estudo, reflexão, vivência e celebração. Neste ano o livro escolhido é a Primeira Carta de Paulo aos Tessalonicenses. Esta pequena Carta é a primeira carta escrita pelo apóstolo Paulo e também é o primeiro escrito do Novo Testamento.

Entre as tantas frases e expressões bonitas desta Carta, o lema escolhido foi tirado de 1Ts 2,8: “Anunciar o Evangelho e doar a própria vida”. A frase resume o que foi a vida e a paixão do Apóstolo Paulo depois da sua conversão. Viajando para tantos lugares, de cidade em cidade, Paulo anunciou o Evangelho (a Boa Notícia) que Jesus trouxe e fundou comunidades cristãs. Com suas Cartas o Apóstolo animava as comunidades e consolidava a mensagem que havia sido anunciada.

É importante recordar que Paulo não tinha em mãos os evangelhos escritos que nós temos hoje. Ele transmitia a mensagem que havia recebido dos apóstolos que conviveram com Jesus. É este Evangelho que foi anunciado como Palavra de Deus (1,6; 2,2.4.9) e que foi acolhido “não como palavra humana, mas como Palavra de Deus que produz efeito” (2,13) entre os fieis.

A Primeira Carta aos Tessalonicenses pode ser dividida em duas partes. A primeira parte (1,1–4,12) é uma grande ação de graças pela boa acolhida que os tessalonicenses tiveram do Evangelho anunciado. Na segunda parte (4,13–5,28) são mais reflexões teológicas a respeito da ressurreição e da parusia (final dos tempos) e algumas orientações finais.

Quem lê a Carta com cuidado vai perceber que a Carta não é só de Paulo, mas do grupo dos missionários: Paulo, Silvano e Timóteo (1,1). Há uma relação fraterna entre os remetentes e os destinatários. Percebe-se isso no jogo de palavras “nós x vós”. E é importante notar que por 17 vezes aparece a palavra “irmãos”. Esta Igreja que nasce é uma comunidade fraterna, de irmãos que transmitem e irmãos que acolhem o Evangelho. A Carta é marcada por uma profunda espiritualidade: vejam como aparecem tantas vezes os nomes divinos: Deus Pai, Senhor Jesus Cristo, Espírito Santo, Senhor, Deus, etc.

Os missionários fundaram a comunidade de Tessalônica e partiram para nova missão, mas ficou sempre a saudade, uma ligação afetiva que os unia mesmo quando estavam separados fisicamente. Isso nos ensina que a evangelização deve ser com amor e com paixão. Na Carta, os missionários se comportam ora “como uma mãe que acaricia os filhos” (2,7) e ora como “um pai que exorta os filhos” (2,11). É esta relação afetiva que os leva a evangelizar com o desejo de doar a própria vida, se necessário, para o bem e o crescimento da comunidade.

Os missionários rendem graças pelas três virtudes que a comunidade de Tessalônica pratica: a atividade da , o esforço da caridade e a perseverança da esperança (1,3). Estas três virtudes aparecem também em 1,8-10; 3,6 e 5,8, como uma marca que sustenta a comunidade. São as três virtudes cardeais que o cristianismo vai desenvolver na história da Igreja.

A evangelização e a fundação da Igreja em Tessalônica ocorreram em meio a conflitos (At 17,1-15). Os missionários foram vistos como aqueles que incomodavam e que estavam “revolucionando o mundo todo” (At 17,7), por isso Paulo, Silas e Timóteo tiveram que sair da cidade. Na Carta, recorda-se que o anúncio “ocorreu em meio a fadigas” (2,9). Paulo se refere a Satanás que está impedindo que ele retorne à comunidade (2,18) e teme que o Tentador destrua o trabalho realizado (3,5). Seguramente, “Satanás” e “Tentador” não se tratam de potências espirituais malignas, mas das estruturas do império romano, aliados a grupos judaicos, que se opunham ao trabalho de evangelização.

Com relação ao final dos tempos e à vinda de Jesus, havia uma espera ansiosa que tudo iria ocorrer muito em breve. A Carta procura animar os irmãos para que vivam o presente e que mantenham a esperança na ressurreição e – como pediu Jesus – que permaneçam em vigilância constante.

A mensagem desta Carta é um testemunho de como deve ser anunciado o Evangelho: com ardor pelo Reino, com entusiasmo e, ao mesmo tempo, com simplicidade e gratuidade. Hoje o mundo em crise nos desafia a sermos o testemunho vivo do Evangelho. A mensagem da boa nova de Jesus só chegará aos corações das pessoas se foi anunciada com paixão e com amor de quem é capaz de doar a própria vida pela causa do Reino de Deus.

Frei Ildo Perondi
Professor da PUCPR (Campus Londrina)

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