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Do próximo domingo, dia 28 de maio, até o domingo seguinte, dia 04 de junho nós cristãos do hemisfério sul estaremos celebrando a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos.

O próprio Cristo rezou por seus discípulos, pedindo a Deus, seu Pai para todos fossem um, a fim de que o mundo acreditasse que ele era o enviado do Pai. Inspirados neste desejo e nesta oração do Senhor, do dia 14 até o dia 23 de junho de 1910, mais de mil delegados, membros das muitas organizações missionárias pertencentes aos diversos ramos do Protestantismo e do Anglicanismo, aos quais se uniu um ortodoxo, encontraram-se em Edimburgo para refletirem juntos sobre a necessidade de alcançar a unidade na fé, e o evangelho fosse anunciado com credibilidade. Nenhum católico participou daquela Conferência. Eram proibidos de fazê-lo. De fato, a Igreja católica teve muita dificuldade de aderir à proposta da caminhada ecumênica. Sua concepção era que “fora da Igreja (católica romana) não havia salvação”. União de cristãos, por isso, significava “catolicização” dos não católicos. Daí a proibição aos fiéis e ao clero de participar de qualquer ato promovido pelo movimento ecumênico.

O Papa Pio IX, por exemplo, em 1864, fez publicar um elenco dos principais erros do tempo, intitulado Silabo. Um deles era o de se considerar “o protestantismo uma forma diferente da verdadeira religião cristã, na qual, como na Igreja católica, seria possível agradar a Deus” (DzH 2918).

A mesma atitude de condenação ainda pairava em Roma no ano de 1928, quando o Papa Pio XI, em sua Encíclica Mortalium animos, reafirmou as razões pelas quais a Santa Sé não dava aos seus fiéis e ao clero a permissão de participar dos congressos e encontros de acatólicos: “A reunião de cristãos só pode ser permitida se for em vista do retorno dos dissidentes à única e verdadeira Igreja de Cristo (isto é a Igreja de Roma), da qual, precisamente um dia, eles tiveram a infeliz idéia de se separar” (AAS 20,1928).

Em 1948, diante da crescente participação de católicos em encontros ecumênicos, o Santo Ofício, através de um documento, Cum compertum, chamou atenção para que fosse escrupulosamente observado o que estava prescrito no Código de Direito Canônico proibindo os católicos, sem uma especial autorização, de participar e, especialmente, de organizar encontros com não católicos para discutir temas de fé e de moral (AAS 15/06 e 10/7/1948).

Aos poucos no entanto, esta atitude rígida foi mudando. Em 1949, com a Instrução, De motione oecumenica, o Santo Ofício reconheceu oficialmente o Movimento Ecumênico como fruto das orações comuns dos fiéis e da ação do Espírito Santo. Consentiu, outrossim, que católicos participassem de seus encontros, sob o estreito controle das autoridades competentes, ou seja, dos bispos diocesanos. Declarou, no entanto, que a única via para atingir a verdadeira unidade era a volta à Roma dos cristãos separados.

Finalmente o Concílio Vaticano II reconheceu que a unidade dos cristãos é graça do Espírito Santo alcançada pela oração, pela palavra e pela ação dos fiéis. Por isso, exortou os católicos a participarem ativamente no trabalho ecumênico (UR 4).

Depois desta autorização os católicos entraram de cheio no movimento ecumênico. Já temos cinquenta anos de diálogo com irmãos de outras Igrejas. Neste período podemos nos conhecer melhor. Cresceu a consciência de que entre os discípulos de Cristo há mais coisas que unem do que aquelas que dividem. Segundo o Papa São João Paulo II, o compromisso ecumênico, hoje, tem caráter de irreversibilidade.

Neste ano a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos vai acontecer no contexto do V centenário da Reforma Luterana. Tem como tema: “Reconciliação – É o amor de Cristo que nos move. Os encontros foram preparados por um grupo ecumênico da Alemanha. Na atividade, não apenas católicos e luteranos estarão engajados, mas também batistas, metodistas, anglicanos, presbiterianos, ortodoxos, entre muitos outros irmãos de diferentes Igrejas. Nestes dias de oração vamos ser convidados a agradecer a Deus pelo dom da Reforma e a pedir perdão pelas incompreensões, preconceitos e divisões provocadas pelo nosso orgulho e autossuficiência.
Atividades como a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos soa como um bálsamo no mundo de hoje, onde prospera, com cada vez mais velocidade, as ações individualistas, hedonistas e de caráter excludente. É imperativo que pessoas cristãs, tornadas irmãs pela fé em Jesus Cristo, deem o testemunho conjunto da oração de Jesus: “para que todos sejam um, Pai, como Tu estás em mim e Eu em Ti. Que eles também estejam em nós, para que o mundo creia que Tu me enviaste.”

Dom Manoel João Francisco
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Londrina

Bispo da Diocese de Cornélio Procópio

 

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