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Por Dom Orlando Brandes
Arcebispo Metropolitano de Londrina

 

Usou fraldas, sugou o leite materno, foi submisso a seus pais, trabalhou na carpintaria.
Sentiu cólera e compaixão. Caminhou muito. Fez a experiência da fuga para o Egito. Sentiu
fome e cansaço. Dormiu no barco e não tinha onde repousar a cabeça. Viveu trinta anos no
anonimato aprendendo no cotidiano a lição que vem da vida familiar. Pediu água.
Sentou-se à mesa de pessoas pecadoras e de má fama. Chorou. Ele é Deus com lágrimas
nos olhos, Quão humano é Jesus.

 

Comoveu-se diante do sofrimento da viúva de Naim e da multidão faminta. Falou do
fermento, do caminho, da hortelã e observou os pássaros do céu, as flores do campo, a
figueira estéril, o pássaro que cai. Disse que as pombas e a serpente simbolizam a
simplicidade e a prudência. Percebeu que as ovelhas se extraviavam e se machucavam.
Falou do que vai para o estômago e depois para a fossa.

 

Marcou presença em casamentos, festas, refeições, banquetes. Cultivou grandes
amizades, principalmente com Marta, Maria, Lázaro, os Doze, Maria Madalena, as mulheres
convertidas. Observou e elogiou a viúva pobre. Teve compaixão do homem de mão seca,
da mulher que sofria de hemorragia e da mulher encurvada. Os surdos, os mudos, os
coxos, os leprosos, os endemoniados, os encurvados, os lunáticos receberam atenção e
cuidados especiais dele.

 

Conversava com pessoas de má fama, deixou-se tocar pela prostituta. Abraçava e
abençoava as crianças, curava os doentes, inclusive pagãos. Chamou pecadores públicos
para serem seus apóstolos e discípulos.

 

Aceitou a ajuda das mulheres ricas convertidas. Referiu-se à semente, à lâmpada, ao grão,
à arvore, ao mar, às montanhas, ao vento, às nuvens, à chuva, à colheita, à porta. Teceu
grandes elogios a quem merecia. Olhava nos olhos. Fazia perguntas. Alertava sobre o
perigo do dinheiro e das riquezas. Montou num jumento para entrar em Jerusalém. Lavou
os pés dos apóstolos revestido com o avental do escravo.

 

Fez a experiência da perseguição, da angústia, da tristeza, da fraqueza, da solidão, do
abandono, da traição. Rezou desabafando sua dor e aflição. A quem lhe deu uma bofetada
ele devolveu com uma reflexão, um toque na consciência. Nunca desistiu de salvar Judas.
Olhou com misericórdia para Pedro que o negou de modo tão vergonhoso. Curou o
soldado a quem Pedro decepara a orelha.

 

Dialogou com Pilatos e silenciou diante dos soldados que o torturaram, flagelaram e
executaram na cruz, oferecendo-lhes o perdão, a reconciliação. Quando tiraram suas
vestes, permaneceu sereno na humilhação. Cheio de compaixão, e nobreza suportou todo
tipo de zombaria e injúria.

 

Algemado e preso passando pelo vale da agonia rezou ao Pai, catequizou os discípulos
dorminhocos, com paciência e bondade. Consola o ladrão arrependido. Tido por malfeitor,
agitador, bandido, ladrão permaneceu na humidade e na paz. Consolou as filhas de
Jerusalém que choravam lágrimas de solidariedade para com ele. Nunca perdeu a
majestade de Filho de Deus, nem deixou de consolar os que encontrou no caminho do
suplicio. Mesmo depois da ressurreição preparou os peixes, que assou nas brasas, e
convidou os discípulos para a refeição.

 

A humanidade de Jesus cativou tanto os seus algozes como o ladrão arrependido e o
centurião romano. Até hoje, pagãos, ateus, cientistas, sábios, artistas, santos e santas
sentem-se atraídos, tocados e encantados pela humanidade de Jesus. Ele é gente, é
humano, é osso de nossos ossos e carne de nossa carne. Quem se aproxima dele torna-se
cada vez mais humano. Veio para nos humanizar, elevar, dignificar e salvar. O cristianismo
é um verdadeiro humanismo. Não podemos ser cristãos desencarnados, alienados,
acomodados. A Igreja é perita em humanidade. O Papa Francisco quer que os cristãos
sejam discípulos missionários, com o cheiro das ovelhas, nas periferias e no meio do povo.
Colaborar na humanização do mundo é um dos deveres da Igreja missionária. Jesus é a
misericórdia que se fez carne. Feliz Natal.

 

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Orlando Brandes

 

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